Título: Três perguntas para Enéas Pestana
Autor: Temóteo, Antonio
Fonte: Correio Braziliense, 24/03/2013, Economia, p. 12

Enéas Pestana, PRESIDENTE DO GRUPO PÃO DE AÇÚCAR

Qual o papel do consumidor nas transformações que ocorreram no país?

O grande agente motivacional da transformação é o consumidor. Eu diria que é uma revolução, provocada pela evolução dos requerimentos e demandas do consumidor. Isso tem surtido efeitos em toda a cadeia produtiva. Sou muito otimista. O grupo Pão de Açúcar acredita muito nesse país. Somos a empresa que mais investiu no ano passado em expansão orgânica. Provavelmente, seremos o maior investidor nos próximos três anos; temos que abrir mais de 500 lojas nesse período, em diferentes regiões do país.

Mas há crise de confiança por parte do empresariado?

Há crise de confiança, sim, e tenho dificuldade para entender isso. A liderança empresarial do país precisa assumir a função de propulsor do desenvolvimento. Claro que existem desafios. Há a questão da carga tributária que precisa ser encarada e toda a burocracia envolvida nesse processo. Há também as questões trabalhistas e de infiraestrutura que precisam ser resolvidas. Acho que, de um lado, existe crise, mas a população, especialmente os líderes, sejam empresários ou políticos, têm que ter muita confiança no país e disseminar isso de maneira forte e positiva.

Qual a expectativa do Grupo Pão de Açúcar para os rumos da economia este ano, com a inflação em alta?

Temos visto um mercado consumidor crescendo ao longo dos últimos anos acima da elevação do Produto Interno Bruto (PIB). Isso pode continuar com essas medidas de desoneração e incentivo ao consumo que o governo vem adotando. Os investimentos da indústria precisam acompanhar esse movimento, ou poderá gerar inflação. O mercado consumidor e o varejo têm sido a grande força do Brasil para enfrentar ou estar protegido da crise global. Agora, não adianta ter um mercado consumidor que cresce acima do PIB, forte, pujante, com oferta de crédito, se a indústria não acompanha, a demanda a gente tem uma inflação momentânea que pode levar alguns anos até que a oferta venha a se equilibrar com a demanda. O principal é que a indústria não desacelere o seu investimento. Que acredite no crescimento desse país e nesse mercado consumidor tanto quanto o setor de varejo tem acreditando.

Carestia

A desoneração da cesta básica ainda não reduziu o preço dos alimentos. Esse grupo de produtos apontou alta de 1,4%, respondendo por 70% do IPCA-15. No quesito transportes, a elevação de 0,32% foi contida pela queda de 16,4% nos preços das passagens aéreas. Isoladamente, esse item retirou 0,10 ponto percentual do índice. Apesar desse movimento, o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, não abrirá mão do aumento das passagens de ônibus na capital paulista.