Título: Conselho de Ética pode sair caro ao PSD
Autor: Caitano, Adriana
Fonte: Correio Braziliense, 27/03/2013, Política, p. 5

A eleição do presidente do Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara dos Deputados, responsável por julgar o comportamento dos parlamentares e analisar processos de cassação, foi adiada ontem após ser vinculada a negociações partidárias e à criação de cargos. O acordo da Mesa Diretora com o PDT para o partido indicar o comando do colegiado foi alvo de questionamentos e o impasse acabou no colégio de líderes. Por ter um candidato avulso, o PSD foi ameaçado pelo PMDB de perder as vagas que seriam criadas para o partido em votação no plenário, que acabou adiada para a próxima semana.

Apesar de, usualmente, não entrar na negociação das distribuição de cargos nas comissões entre partidos, o Conselho de Ética, este ano, foi prometido ao PDT. A legenda indicou o deputado Marcos Rogério (RO), que está no primeiro mandato e, até o ano passado, integrava a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Paralelamente, Ricardo Izar (PSD-SP) movimentou-se para ocupar o posto. Ele nem sequer tinha direito a uma vaga no grupo, mas convenceu o PR a ceder-lhe o espaço e entrou em campanha para virar presidente.

Apesar dos apelos — inclusive de líderes do próprio partido — para desistir, Izar não recuou e pediu que a decisão fosse dada no voto, que é secreto. Uma das causas para ele querer comandar o Conselho — e para alguns partidos não o quererem no cargo — é a lista dos processos que podem chegar ao colegiado ainda este ano: dos condenados no processo do mensalão, do deputado Carlos Alberto Leréia (PSDB-GO) e, até, de Marco Feliciano (PSC-SP), o polêmico presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias. "Minha candidatura tem um motivo emocional", argumentou Izar, referindo-se ao pai, morto em 2008, o ex-deputado de mesmo nome que presidiu o Conselho de Ética no período em que os acusados de envolvimento no mensalão foram julgados e, alguns, cassados, como José Dirceu.

De acordo com integrantes do Conselho, Izar chegou à sessão com pelo menos 14 dos 21 votos garantidos — precisa de 12 para ser eleito. Temendo a vitória de Izar, o líder do PMDB, Eduardo Cunha (RJ), entrou em campo com uma ameaça clara: "Essa quebra de acordo terá uma consequência negativa em cascata à Casa. Não permitirei que, no plenário, se vote mais nada, inclusive os cargos do PSD, enquanto esse processo não for resolvido". A fala de Cunha provocou reações alteradas na sessão. De um lado, os que defendiam o acordo. De outro, os que queriam ficar livres para votar. "A presidência deste conselho não é prerrogativa de indicação partidária porque é independente, mas estão usando o jogo mais baixo que pode haver", comentou o deputado Júlio Delgado (PSB-MG).

Cargos em risco Mas o bate-boca na reunião foi estendido e acabou ajudando a derrubá-la. A ordem do dia no plenário começou mais cedo e o encontro teve que ser adiado para a próxima semana. "Temos que respeitar os acordos. Não sou candidato de mim mesmo, meu mandato pertence ao meu partido", justificou Marcos Rogério, ao defender seu nome para a presidência do Conselho de Ética. "Foi uma clara manobra feita por quem sabia que minha eleição estava garantida", disse Ricardo Izar, ao final.

Como prometido por Eduardo Cunha, o impasse teve consequências. O projeto de resolução que cria 30 cargos para o PSD na estrutura da Câmara estava na pauta do plenário e, por causa da confusão, teve a votação adiada. "Não tinha clima para votar agora, mas, até a semana que vem, vamos dar um jeito", comentou o vice-líder do partido, Guilherme Campos. O "jeito" que deve ser dado no caso é a legenda convencer Izar a abrir mão da candidatura. "Ele até tem votos, mas seria a eleição do ganha, mas não leva, porque ficaria numa situação ruim que prejudicaria seu trabalho", comentou um membro da bancada.

"Não permitirei que, no plenário, se vote mais nada, inclusive os cargos do PSD, enquanto esse processo não for resolvido" Eduardo Cunha (RJ), líder do PMDB na Câmara