Título: Cheque especial: juro de 138,5%
Autor: Martins, Victor
Fonte: Correio Braziliense, 27/03/2013, Economia, p. 11

Instituições financeiras se antecipam ao BC e aumentam a taxa média dos empréstimos para as pessoas físicas

Puxada pelo cheque especial e pelo crédito pessoal, a taxa média dos empréstimos e financiamentos ficou mais pesada para as famílias em fevereiro, passando de 34,6% para 35,1% ao ano. A alta aconteceu porque as instituições financeiras se anteciparam ao esperado aperto dos juros básicos (Selic). A boa notícia é que a taxa do crediário — recursos usados para financiar fogões, geladeiras e outros eletrodomésticos — diminuiu 1,4 ponto percentual. No acumulado de 12 meses, o custo dessas operações encolheu 6,7 pontos, segundo o Banco Central.

Já o consumidor que precisou de um empréstimo pessoal em fevereiro, e não tinha a opção de fazer o crédito com desconto em folha de pagamento, pagou mais caro pelos recursos. A taxa dessa operação aumentou 1,7 ponto percentual e passou de 68,1% ao ano para 69,8%. Os juros do cheque especial também subiram; a alta de 0,5 ponto percentual levou a taxa média de 138% para 138,5% ao ano.

Segundo a autoridade monetária, parte desses aumentos aconteceu em função do custo de captação dos bancos, que passaram a pagar mais para obter recursos. Na prática, para cada R$ 100 captados, as instituições financeiras tiveram, em média, uma despesa de R$ 8,90. Em janeiro, esse valor era de R$ 8,40. “A alta do custo de captação reflete a percepção dos agentes sobre a conjuntura internacional, a inflação e a expectativa para a taxa de juros (Selic)”, admitiu Túlio Maciel, chefe do Departamento Econômico do BC.

O aumento das despesas dos bancos, que acabou por chegar ao bolso do consumidor, aconteceu em razão de declarações do presidente do BC, Alexandre Tombini, e de afirmações em documentos divulgados recentemente pela autoridade monetária, sinalizando que a Selic deve subir em breve, caso a inflação continue a piorar. A expectativa dos analistas é de que os juros básicos saiam dos atuais 7,25% ao ano para 8,5% até o fim de 2013. Apenas essa sinalização, segundo especialistas, já aumentou o custo para o consumidor que precisa de financiamento.

Para Maurício Molan, economista-chefe do Santander, os aumentos foram exagerados. “Embora os riscos de alta da Selic em 2013 tenham crescido, o aperto deve ser menos agressivo do que os bancos estão precificando”, ponderou. Na avaliação dele, a inflação deve dar algum alívio nos próximos meses e o governo deve promover novas desonerações fiscais para diminuir o ritmo de alta dos preços para evitar uma elevação maior dos juros.

Calote Ainda de acordo com os dados do BC, a inadimplência começa a ceder. Em fevereiro, ela chegou ao menor nível em 14 meses, embora continue em patamar elevado. No crédito para pessoas físicas, a taxa recuou de 7,9% para 7,7% dos contratos. A maior queda, de 1,6 ponto percentual, foi registrada no cartão de crédito. A modalidade, no entanto, é a que tem o índice de calote mais elevado: 26,3% de todas as operações.