Título: Coreia do Norte ameaça os EUA
Autor: Tranches, Renata
Fonte: Correio Braziliense, 27/03/2013, Mundo, p. 15

A Coreia do Norte subiu mais uma vez o tom de sua reação às sanções internacionais e ordenou ao exército que se apreste para combate e determinou que as unidades de mísseis estratégicos estejam prontas para disparar contra bases militares dos Estados Unidos na ilha de Guam, no Havaí e no próprio continente americano. Já uma semana atrás, o regime comunista de Pyongyang havia ameaçado atacar Guam e as bases dos EUA no Japão, como resposta a voos de treinamento dos bombardeiros B-52 na Coreia do Sul. Americanos e sul-coreanos iniciaram, no último dia 11, exercícios militares que devem se prolongar até o fim de abril. Forças norte-coreanas, da sua parte, realizam na costa, perto da fronteira intercoreana, manobras de desembarque e contradesembarque.

Washington reagiu dizendo que os novos avisos "seguem um padrão criado para fazer crescer as tensões e intimidar" outras nações, segundo o secretário de Imprensa do Departamento de Defesa, George Little. "Não é apenas artilharia. A Coreia do Norte tem capacidades nucleares. A gama completa de seu arsenal é motivo de preocupação para os EUA e para os aliados sul-coreanos", afirmou Little, acrescentando que o país "leva a sério" tais ameaças. Na Coreia do Sul, o ministro da Defesa, Kim Kwan-jin, disse que suas tropas responderão "com firmeza" a qualquer agressão. A presidente, Park Geun-hye, instou o vizinho a abandonar o programa nuclear, que indispõe a Coreia do Norte com a comunidade internacional.

O comunicado do regime comunista, liderado pelo ditador Kim Jong-un, foi divulgado pela Agência Central de Notícias Coreana (KCNA). Ele se segue a visitas feitas por Kim às unidades envolvidas nas manobras, e marca o tom crescente adotado desde o início do mês, quando o Conselho de Segurança da ONU impôs nova rodada de sanções ao país, em represália pelo seu terceiro teste nuclear, realizado em fevereiro. Os EUA anunciaram punições unilaterais a Pyongyang. A mobilização internacional, para o regime norte-coreano, faz parte de um "complô" liderado por Washington para derrubá-lo.

As sanções afetam diretamente as transações financeiras norte-coreanas e o patrocínio à sua política nuclear, como explicou o diretor do Programa de Estudos Coreia-Pacífico da Universidade da Califórnia (San Diego), Stephan Haggard. As últimas ameaças partidas de Pyongyang, segundo ele, são uma reação. "A Coreia do Norte está respondendo tão vigorosamente, porque (as sanções) a atingiram em cheio", disse o professor. Haggard, no entanto, duvida que as ameaças resultem em ataques.

A China também reagiu e pediu que as partes ajam "com moderação". O país, principal aliado de Pyongyang, deverá desempenhar papel cada vez maior de mediação entre Coreia do Norte e EUA. Mas o diálogo fica cada vez mais distante à medida que novas sanções são impostas ao país, segundo Haggard. "Esse tem sido o dilema da comunidade internacional: é fácil impor sanções a um país, difícil é fazê-lo voltar às negociações, depois."

Desde que sucedeu o pai, Kim Jong-il, Kim Jong-un tem tomado medidas que acirraram as tensões com a Coreia do Sul e os EUA. Recentemente, o governo norte-coreano declarou nulo o armistício que encerrou a Guerra da Coreia (1950-1953). Também neste mês, Pyongyang cortou o único canal de comunicação com o Sul, o chamado "telefone vermelho".