Valor econômico, v. 21, n. 5137, 27/11/2020. Brasil, p. A8

 

Para Itamaraty, resposta chinesa a Eduardo foi ‘ofensiva’

27/11/2020

 

 

Pequim havia rebatido críticas de filho do presidente à tecnologia 5G do país asiático

O Itamaraty repreendeu a embaixada da China pelas críticas contra o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e disse, em ofício, que a resposta da missão diplomática ao parlamentar traz conteúdo “ofensivo e desrespeitoso”.

“Não é apropriado aos agentes diplomáticos da República Popular da China no Brasil tratarem dos assuntos da relação Brasil-China através das redes sociais. Os canais diplomáticos estão abertos e devem ser utilizados", disse o Ministério das Relações Exteriores, em carta enviada aos representantes do governo chinês no Brasil na quarta-feira e revelada inicialmente pela rede CNN Brasil.

“O tratamento de temas de interesse comum por parte de agentes diplomáticos da República Popular da China no Brasil através das redes sociais não é construtivo, cria fricções completamente desnecessárias e apenas serve aos interesses daqueles que porventura não desejem promover as boas relações entre o Brasil e a China”, afirmou o Itamaraty.

Para a pasta comandada por Ernesto Araújo, o “tom e conteúdo ofensivo e desrespeitoso” da manifestação chinesa prejudica a imagem do país asiático com a opinião pública brasileira.

Com a carta, o Itamaraty respondeu à manifestação dos chineses contra uma publicação de Eduardo, presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara, que associou o governo de Pequim à espionagem de dados. O filho de Jair Bolsonaro destacou em suas redes sociais na noite de segunda que o Brasil endossou iniciativa dos EUA para manter a segurança da tecnologia 5G “sem espionagem da China”.

“O governo Jair Bolsonaro declarou apoio à aliança Clean Network, lançada pelo governo Donald Trump, criando uma aliança global para um 5G seguro, sem espionagem da China", escreveu. “Isso ocorre com repúdio a entidades classificadas como agressivas e inimigas da liberdade, a exemplo do Partido Comunista da China.”

No dia seguinte, o parlamentar apagou a postagem. Ainda assim, a embaixada chinesa respondeu e defendeu que Eduardo e outros críticos do país asiático deveriam abandonar a retórica da extrema direita norte-americana, para evitar “consequências negativas”. “Tais declarações infundadas não são condignas com o cargo de presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados.”

Na correspondência à embaixada, o Itamaraty classificou de “altamente inadequado” que a missão diplomática “se pronuncie sobre as relações do Brasil com terceiros países, tendo presente que a Embaixada do Brasil em Pequim não se pronuncia sobre as relações da República Popular da China com terceiros países”. A chancelaria também disse aos chineses que o governo toma decisões soberanas sobre temas de interesse estratégico do Brasil.

Após a publicação de Eduardo, a embaixada da China enviou reclamação ao Itamaraty. Esse primeiro documento não foi tornado público, mas o fato de a missão diplomática ter publicado uma declaração posterior gerou incômodo na equipe de Araújo.

O vice-presidente Hamilton Mourão minimizou ontem a fala do deputado federal, dizendo que foi apenas uma “declaração” de um parlamentar e que o trabalho do governo com o país asiático continua. “Estamos trabalhando de forma objetiva e mantendo contato com nossa contraparte na China. A gente segue nosso trabalho normal aqui no governo”, disse.