Título: PSB namora os rebeldes do PMDB
Autor: Correia, Karla
Fonte: Correio Braziliense, 30/03/2013, Política, p. 5

Insatisfeitos com a presidente Dilma, deputados do baixo clero peemedebista ensaiam aproximação com o governador Eduardo Campos

Apesar dos recentes afagos dispensados ao PMDB pela presidente Dilma Rousseff, que turbinou a legenda na Esplanada com a Secretaria de Aviação Civil e aquietou a bancada mineira da sigla com o Ministério da Agricultura, o segundo maior partido da base aliada é hospedeiro de um ninho de rebeldes dispostos a levantar voo da bancada governista. É nesse cenário que o empenho do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, em prospectar buracos na base de sustentação de Dilma Rousseff está prestes a ser brindado com um alento do PMDB. Uma caravana de cerca de 30 parlamentares, entre deputados e senadores, deve ir ao encontro de Campos no Palácio das Princesas, sede do governo estadual, dispostos a oferecer trincheiras dentro de um dos principais partidos da base aliada ao pré-candidato ao Palácio do Planalto em 2014.

O encontro deve ocorrer logo após a semana santa. A insatisfação com o tratamento dispensado pelo Planalto e também pela cúpula do PMDB aos parlamentares, a maior parte pertencente ao chamado “baixo clero” do Congresso, é o principal motor da rebelião pública ensaiada pela ala mais periférica da legenda.

“A verdade é que o PMDB é um partido de muitos, comandado por poucos”, diz o deputado Genecias Noronha (PMDB-CE), que lidera o grupo de insurgentes dentro da sigla. “Não somos bem recebidos pelo governo, não participamos do processo de tomada de decisões dentro do PMDB. Somos reduzidos a uma massa de manobra que faz o partido ter a maior bancada no Senado e a segunda maior na Câmara, mas não tem voz”, reclama o deputado da bancada cearense do partido, quintal do líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira.

Reforma política Trata-se de uma movimentação de mão dupla. Ciente das oportunidades que as rachaduras na base aliada representam para sua candidatura em construção, Eduardo Campos também já fez incursões de sua própria iniciativa dentro do PMDB. O pernambucano tem buscado aproximação com a deputada Rose de Freitas (PMDB-ES), que expôs uma divisão interna no partido ao se candidatar como adversária do deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) para a presidência da Câmara. Também já conversou com a deputada Elcione Barbalho (PMDB-PA) e com o deputado Arthur Oliveira Maia (PMDB-BA).

“Hoje, não existe muita diferença entre o tratamento dado pelo governo a nós ou aos partidos de oposição. Não existe vantagem alguma em votar com o governo, em fazer parte da base”, diz Maia. Apesar de não representar qualquer benefício ao governador em relação a tempo de tevê — uma das principais preocupações de Campos, no momento —, a rebelião peemedebista tem potencial para lhe garantir palanques em colégios eleitorais onde, hoje, o governador não tem aliados. E ainda existe a hipótese de uma debandada dos insatisfeitos em direção ao PSB. Com a possibilidade de uma ampliação da janela para mudança de partidos na votação da reforma política, prevista para 9 e 10 de abril, na Câmara, aumentam as chances de os rebelados engordarem a bancada do PSB de olho em 2014.

Aécio e as prévias

[FOTO1] Cotado para disputar a Presidência da República nas eleições de 2014, o senador mineiro Aécio Neves (PSDB) afirmou ontem concordar com a realização de prévias para a escolha do candidato — caso haja mais de um —, mas ressaltou que o partido só terá reais chances de ocupar o cargo hoje nas mãos da petista Dilma Rousseff se estiver unido e apresentar um nome que “represente algo novo, algo que permita às pessoas voltarem a sonhar”. As declarações foram dadas diante de afirmações do vice-presidente nacional do PSDB, Alberto Goldman, de que “não sabe” se Aécio Neves é a melhor opção do partido para as eleições do ano que vem. Goldman é aliado do ex-governador de São Paulo José Serra e defende a realização de primárias para a escolha do candidato em 2014. Serra é um dos entraves para a candidatura do senador. “Concordo (com as prévias) e não é hora de o PSDB ter candidato. O PSDB tem que ouvir as pessoas, caminhar pelo Brasil e construir um ousado projeto”, afirmou Aécio (foto), que participou ontem à noite, em São João del-Rei, do tradicional Descendimento da Cruz e da Procissão do Enterro, segurando a lanterna de prata que foi carregada pelo avô Tancredo Neves. O evento faz parte das comemorações da semana santa na cidade há 302 anos. (Isabella Souto)