Título: Pílula só com receita
Autor: Chaib, Julia
Fonte: Correio Braziliense, 30/03/2013, Brasil, p. 7

Entre os medicamentos que podem ter a venda controlada, com exig~encia da apresentação da receita médica, está a pílula anticoncepcional. O debate se acirrou, no fim de janeiro, depois que o órgão que regula o mercado de medicamentos e alimentos na França suspendeu a venda da pílula Diane 35 e seus genéricos. A droga teria sido responsável pela morte, nos últimos 25 anos, de quatro pessoas por trombose.

A bacharel em direito Marina Moreira Terra de Souza, de 27 anos, tomou a pílula anticoncepcional pela primeira vez aos 16 anos, para tratar uma disfunção conhecida como ovário policístico. “Com um mês usando a pílula, comecei a sentir muita dor e minha perna inchou de uma hora para outra. Estava com trombose. O tratamento demorou bastante e eu nunca mais tomei o anticoncepcional.”

Para a presidente da Comissão Nacional Especializada em Anticoncepção da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), Marta Curado, os contraceptivos deveriam ser vendidos com prescrição médica, mas a realidade brasileira é outra. “Se forem colocados muitos entraves à venda da pílula, o que vai acontecer é o aumento no número de gravidez não planejada e mais abortos provocados.” As consequências seriam, segundo ela, mais mortes e mais mulheres inférteis por complicações pós-aborto. Por isso defende a liberdade de comercialização da pílula. “Todas estão sujeitas a esses riscos, que nem são tão frequentes. Mas, neste momento, acho que os riscos oferecidos pela pílula são menores do que os riscos de uma gravidez não planejada.”

Para o toxicologista Sérgio Graff, A Anvisa poderia exigir a apresentação de receita médica apenas na primeira venda do contraceptivo. “Não é um medicamento banal. Deve ser tomado com acompanhamento. Para isso, o médico tem de fazer exames antes de prescrever a pílula, para verificar se o paciente tem alguma contraindicação”, explica.