Título: IPI reduzido até junho
Autor: Hessel, Rosana
Fonte: Correio Braziliense, 30/03/2013, Economia, p. 11

Ministério da Fazenda vai manter o desconto do imposto para os carros por, pelo menos, mais três meses

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, vai anunciar, na próxima segunda-feira, a prorrogação do desconto do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para automóveis por pelo menos mais um trimestre — há a hipótese de a medida vigorar por tempo indeterminado. O martelo já foi batido pela presidente Dilma Rousseff. O governo decidiu congelar o tributo em 2% para os automóveis 1.0. No caso dos veículos até 2.0, permanecem as alíquotas de 7% para os modelos flex e de 8% para os movidos a gasolina.

O Palácio do Planalto está contando com essa medida para conter a escalada da inflação. O Banco Central prevê que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) fechará o ano em 5,7%, bem acima dos 4,8% previstos anteriormente. Pelas contas da atoridade monetária, o custo de vida chegará a 6,7% no segundo trimestre do ano, rompendo o limite de tolerância, de 6,5%. Com isso, o BC deve elevar a taxa básica de juros (Selic), hoje em 7,25% ao ano.

Pelo cronograma original, a partir de 1º de abril, o IPI do carro popular de 1.000 cilindradas subiria de 2% para 3,5%, saltando para 7% em julho. Já o imposto dos veículos mais potentes pularia de 7% para 9%, nos flex, e de 8% para 10%, nos movidos a gasolina.

As alíquotas do IPI começaram a ser elevada gradualmente em janeiro, com previsão de ser integralmente recompostas em julho, pois a produção de carros voltou a crescer, e o governo tinha a certeza de que a inflação cederia. Não só as fábricas registraram recuo nos pedidos, como os preços dos veículos aumentaram. De janeiro a março, conforme dados do IPCA, os veículos ficaram, em média, 1,88% mais caros. “Houve uma combinação de notícias ruins, que o governo quer reverter”, disse um assessor do Planalto.

A expectativa das montadoras, cujos representantes estiveram reunidos com Mantega em São Paulo, na quinta-feira passada, é grande. Elas alegam que têm motivos de sobra para pleitear a manutenção do IPI reduzido. Desde que o tributo começou a aumentar, em janeiro, o mercado de veículos desacelerou. O país é o quarto maior produtor de automóveis no mundo, mas o consumido anda retraído. No mês passado, apesar de a fabricação de automóveis ter crescido 5,2% em relação a fevereiro de 2012, os licenciamentos caíram 5,8%, ou seja, as vendas efetivas recuaram. Em relação a janeiro de 2013, o tombo foi bem maior: 24,5%.

Os números de março ainda não estão fechados, mas os dados preliminares estão bem abaixo da expectativa. As vendas diárias giraram em torno de 13,4 mil unidades e, nesse ritmo, o mês não terminará com as 300 mil vendas esperadas. A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) deverá anunciar os dados na próxima sexta-feira, e o que se espera é mais um dado ruim.

Os empresários argumentam que a queda nas vendas ameaça a manutenção dos empregos no segmento, que absorve cerca de 126 mil trabalhadores. Diante desse quadro preocupante, o governo da presidente Dilma poderá contabilizar mais um ano de inflação em alta e atividade econômica fraca, dando munição para a oposição na campanha de 2014.

Assim como a construção civil, a indústria automotiva é considerada um “gatilho” para a economia. Qualquer estímulo nesses setores se reflete rapidamente no Produto Interno Bruto (PIB). Em 2012, com a alíquota zerada desde maio, as montadoras bateram recorde histórico de vendas: 3,8 milhões de unidades, volume 4,6% maior do que em 2011.