Título: Investimento baixo segura crescimento
Autor: Hessel, Rosana
Fonte: Correio Braziliense, 30/03/2013, Economia, p. 11

O Brasil vem crescendo menos do que os vizinhos latino-americanos. No ano passado, o Produto Interno Bruto (PIB) aumentou apenas 0,9%, enquanto Peru, Colômbia e Chile, avançaram 6,2%, 5,5% e 4,5%, respectivamente. Um dos principais motivos desse desempenho ruim é a taxa de investimento brasileira que, ao invés de subir, vem caindo. No ano passado, ela ficou em 18,1% do PIB — ante uma média de 23% na região. A expectativa é de que o país leve muitos anos para sair desse patamar, e, consequentemente, continue registrando baixo crescimento econômico. No ano passado, a taxa de investimento caiu 4%. Neste ano, segundo previsão do Banco Central, ela vai subir 4% — o que apenas vai fazer com que o país continue patinando nesse quesito.

O termômetro dos investimentos é a chamada Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), que mede quanto o setor produtivo investe em máquinas, equipamentos e na construção de fábricas e galpões. Os economistas destacam que um país precisa ter uma taxa de 25% do PIB para crescer, de forma sustentável, em torno de 5% por ano. Essa é a meta buscada pela presidente Dilma Rousseff, mas ninguém aposta que ela conseguirá atingi-la até o fim do mandato, como anunciou recentemente.

Reformas Em 2012, por exemplo, o indicador voltou ao mesmo patamar de 2009, auge da crise financeira global. O economista-chefe da agência de classificação de risco Austin Ratings, Alex Agostini, prevê que a taxa continuará nesse nível por “uns 20 a 30 anos”, mesmo se o governo mantiver uma extensa agenda de investimentos em infraestrutura. “O problema é que o ritmo de qualquer mudança no Brasil é menos acelerado do que no resto do mundo. A maioria dos países está fazendo reformas, e nós poderemos continuar na lanterna”, pontuou.

Para o secretário executivo da Comissão Econômica para a América Latina e Caribe (Cepal), Antonio Prado, os investimentos não tem avançado porque o país ficou “um longo período com juros reais muito altos e câmbio valorizado”. Ele lembrou que, no ano passado, o Executivo se esforçou para baixar os juros e desvalorizar o real, mas ponderou que as duas medidas coincidiram com a estagnação dos Estados Unidos e com o aprofundamento da crise na Europa. “Não podemos esquecer que o Brasil é uma economia internacionalizada. As empresas multinacionais seguem uma estratégia global e não vão investir nas subsidiárias se a matriz estiver ociosa”, observou.

Confiança Agostini observou que “é necessário também um ambiente de negócio seguro e confiável para atrair os donos do capital”. A seu ver, o cenário atual não é propício: a economia está combalida, e o investidor não se sente seguro. Os planos de concessão na área de infraestrutura, estimados em R$ 470 bilhões, poderão estimular a economia apenas a partir de 2014, caso os projetos saiam do papel. “Ninguém investe em um país que cresce pouco. Muito menos para perder ativos. As regras precisam ser claras e não mudar de uma hora para outra. Só com essas garantias é que o investidor assume riscos”, afirmou.

A opinião é compartilhada por Roberto Luís Troster, ex-economista-chefe da Federação Brasileira de Bancos (Febraban). “O governo está preocupado com o ‘pibão’ deste ano em vez de adotar medidas de longo prazo”, disse ele, citando a necessidade de encaminhar as reformas tributária e trabalhista, reduzir a burocracia, transmitir confiança no respeito aos contratos e melhorar as agências reguladoras. “Se o governo olhar apenas para o curto prazo, ninguém investe”, emendou.

Prado, da Cepal, explica que Chile, Peru e Colômbia crescem mais porque passam por um momento de industrialização que o Brasil já atravessou nas décadas de 1940 e 1950. Ele reconhece, no entanto, que a burocracia brasileira é um obstáculo para a iniciativa privada, e até mesmo para a execução do orçamento de investimentos do governo. (RH)

» Sem força para crescer

O Brasil tem uma das menores taxas de investimento na região, abaixo da média.

Formação Bruta de Capital Fixo (Em % do PIB)

Na América Latina Argentina 22,9 Bolívia 21,2 Brasil 18,1 Chile 27,7 Colômbia 27,9 El Salvador 24,9 Honduras 23,5 México 23,5 Paraguai 19,4 Peru 32,2 Uruguai 21,2 Venezuela 26,9 América Latina e Caribe 22,9

Formação Bruta de Capital Fixo (Em % do PIB)

No Brasil 2000 16,8 2001 17,0 2002 16,4 2003 15,3 2004 16,1 2005 15,9 2006 16,4 2007 17,4 2008 19,1 2009 18,1 2010 19,5 2011 19,3 2012 18,1

Fontes: Cepal e IBGE