O Estado de São Paulo, n.46313, 05/08/2020. Política, p.A10

 

Cármen Lúcia cobra explicações sobre dossiê contra opositores

Rafael Moraes Moura

05/08/2020

 

 

Ministra do STF fala em 'comportamento incompatível com os princípios democráticos do estado de direito'

A ministra Cármen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal, deu ontem 48 horas para o Ministério da Justiça explicar à Corte um dossiê elaborado pela Secretaria de Operações Integradas (Seopi) contra 579 servidores federais e estaduais identificados como integrantes do "movimento antifascismo". O prazo se esgota amanhã.

"A gravidade do quadro descrito – a se comprovar verdadeiro – escancara comportamento incompatível com os mais basilares princípios democráticos do estado de direito e põe em risco a rigorosa e intransponível observância dos preceitos fundamentais da Constituição da República", disse a ministra.

A decisão de Cármen foi tomada em ação da Rede Sustentabilidade, que pediu ao STF a abertura de inquérito na Polícia Federal sobre o caso.

O ministro da Justiça, André Mendonça, anunciou anteontem a demissão do diretor de Inteligência da Seopi, coronel reformado Gilson Libório. O coronel – e praticamente toda a cúpula da Seopi – foi nomeada pelo próprio Mendonça, que assumiu a pasta no lugar de Sérgio Moro, em abril.

A Seopi foi criada por Moro para agrupar operações policiais contra o crime organizado, mas, sob Mendonça, mudou de diretores, nomeando pessoas próximas e ele, e de foco.

Levantamento do Estadão mostrou que o atual ministro da Justiça trocou nove de um total de 14 pessoas indicadas pelo antecessor para compor a chefia da Seopi. O trabalho da secretaria virou alvo do Ministério Público após a revelação do UOL de que o órgão produziu relatório contra opositores do governo Jair Bolsonaro. Domingo, Mendonça anunciou uma sindicância interna.

Substituto. Para o lugar de Libório no comando da área de Inteligência da Seopi, Mendonça escolheu o delegado da Polícia Federal Thiago Marcantonio Ferreira. Na PF desde 2006, Marcantonio atuava como assessor especial do ministro da Justiça e é considerado homem de confiança. A mudança teve o apoio de Bolsonaro.