Valor econômico, v. 21, n. 5138, 30/11/2020. Política, p. A8

 

Centro-direita se espalha nos maiores municípios

Malu Delgado

Carolina Freitas

30/11/2020

 

 

Disputas do segundo turno em 57 municípios mostra fortalecimento da centro-direita e apostas fracassadas da esquerda

O campo da esquerda teve as principais apostas frustradas nos maiores municípios do país. Ontem houve segundo turno em 57 cidades com mais de 200 mil habitantes, incluindo 18 capitais. Lideranças políticas e siglas de centro-direita, sobretudo MDB, DEM, PSDB e PSD, tiveram o saldo mais positivo nesta segunda rodada da disputa nos maiores colégios eleitorais do país.

Nas 18 capitais em que os eleitores voltaram às urnas, 5 prefeitos tentavam a reeleição neste segundo turno. Três tiveram êxito: Edvaldo Nogueira (PDT), em Aracaju (SE); Emanuel Pinheiro (MDB), em Cuiabá (MT); e Hildon Chaves (PSDB), em Porto Velho (RO). Saíram derrotados a prefeita de Rio Branco, Socorro Neri (PSB), e o prefeito do Rio, Marcelo Crivella (Republicanos).

Confirmando a tradição de ter capilaridade nos grandes centros, o MDB elegeu dez prefeitos ontem, sendo cinco deles em capitais: Porto Alegre, Goiânia, Teresina, Boa Vista e Cuiabá. O DEM levou cinco prefeituras a mais nesta segunda rodada, com a vitória mais expressiva no Rio, que será governado pelo ex-prefeito Eduardo Paes. No primeiro turno, o partido já havia elegido prefeitos em três capitais (Salvador, Curitiba e Florianópolis), às quais agora se soma o Rio.

Com a eleição de Bruno Covas em São Paulo e Eduardo Paes no Rio, PSDB e DEM, respectivamente, ganham forte musculatura política e eleitoral e sinalizam a continuidade de uma parceria que deve perdurar em 2022, num projeto presidencial. Com a vitória de Covas, os tucanos vão governar quatro capitais: São Paulo, Natal, Palmas e Porto Velho.

Houve um avanço eleitoral importante de partidos até então pouco consolidados no país, como o Podemos, que venceu ontem em seis grandes cidades. Além da capital do Maranhão, São Luís, a legenda vai governar também cidades importantes em São Paulo, como São Vicente, Mogi das Cruzes e Taboão da Serra. Em todas as três, foram derrotados candidatos do PSDB. Trata-se também de uma consolidação de partidos do chamado Centrão, mais associado, na esfera federal, ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido). O Podemos também elegeu o prefeito de Blumenau (SC).

Já o PSD, cujo crescimento eleitoral já havia chamado a atenção no primeiro turno, conseguiu eleger mais quatro prefeitos em cidades importantes de São Paulo (Guarulhos e Limeira) e do Rio Grande do Sul (Canoas e Santa Maria). No primeiro turno, o PSD elegeu dois prefeitos de capitais: Alexandre Kalil, em Belo Horizonte (MG), e Marquinhos Trad, em Campo Grande (MS).

O Avante, outro partido deste campo, surpreendeu com a virada em Manaus. Davi Almeida derrotou o ex-governador Amazonino Mendes (Podemos), que vinha se apresentando como o favorito na disputa. O PP, neste campo político de direita, elegeu o prefeito de Rio Branco (AC), Tião Bocalom, derrotando a atual prefeita, Socorro Neri (PSB).

As principais derrotas da esquerda em capitais foram as de Guilherme Boulos (Psol) em São Paulo, Manuela D’Ávila (PCdoB) em Porto Alegre, Marília Arraes (PT) no Recife e João Coser (PT) em Vitória. O resultado mais expressivo para a esquerda foi a vitória de Edmilson Rodrigues (Psol) em Belém, cuja vitória foi a primeira a ser confirmada ontem, às 17h40. O fluxo de resultados das apurações ontem fluiu normalmente, ao contrário do primeiro turno em que houve atraso por uma falha técnica do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

A eleição do psolista em Belém, que disputou com uma frente de esquerda composta por PT, Rede, UP, PCdoB, Psol e PDT, representou um dos poucos locais do país em que a esquerda se uniu na largada, já no primeiro turno. Edmilson Rodrigues derrotou o Delegado Eguchi, do Patriota.

Em Porto Alegre, a disputa terminou bem menos apertada do que havia sido projetado por institutos de pesquisa. Sebastião Melo venceu com 54,6% dos votos válidos, enquanto a candidata do PCdoB terminou com 45,3%. O índice de abstenção quase atingiu 33%. O fim do primeiro turno já foi o prenúncio de uma disputa com alta temperatura. A diferença entre Melo e Manuela foi de apenas dois pontos percentuais, 31,01% a 29%.

O resultado do segundo turno nas grandes cidades foi devastador para o PT. Dos 15 municípios em que o partido disputava, sofreu 11 derrotas. As vitórias só se confirmaram em Diadema (SP), com José de Filippi; Mauá (RJ), com Marcelo Oliveira; Contagem, com Marília Campos; e Juiz de Fora (MG), com Margarida Salomão. Houve viradas surpreendentes na reta final em Feira de Santana (BA), Vitória da Conquista (BA), São Gonçalo (RJ), Santarém (PA) e Caxias do Sul (RS), onde os petistas lideravam as disputas e acabaram derrotados. Em São Gonçalo, a virada de Capitão Nelson (Avante) para derrotar o petista Dimas Gadelha contou com empenho de Jair Bolsonaro.

Já a dupla de centro-esquerda, PDT e PSB, que se uniu em vários municípios e isolou o PT, se saiu bem melhor. Além de o PSB ter conseguido manter o seu feudo de poder no Recife, com a eleição do deputado federal João Campos, o partido também levou Maceió, com a vitória de virada do deputado federal JHC, que derrotou Alfredo Gaspar (MDB). A disputa no primeiro turno havia sido apertadíssima, quando o emedebista venceu por uma diferença de apenas 1.181 votos.

O PDT manteve também a prefeitura de Fortaleza, o reduto dos irmãos Ferreira Gomes. O candidato escolhido por Ciro Gomes, José Sarto, derrotou Capitão Wagner (Pros), que reuniu o apoio da extrema-direita. O partido também conseguiu reeleger o prefeito de Aracaju, Edvaldo Nogueira. Juntos, portanto, PDT e PSB vão governar quatro capitais. O PT não vai governar nenhuma das capitais.

Em São Luís, o governador do Maranhão, Flavio Dino (PCdoB), teve uma derrota pessoal. O político do PCdoB mergulhou na disputa no segundo turno para tentar eleger o deputado estadual Duarte Júnior (Republicanos), contra o deputado federal Eduardo Braide (Podemos). O rival de Dino foi eleito com 55,53% dos votos, ante 44,47% de Duarte. Como nacionalizou a disputa e classificou Braide de representante do grupo bolsonarista, o governador terá que administrar a derrota e fissuras em sua base.

O Republicanos, partido que se alinhou com o bolsonarismo em capitais como Rio e São Paulo, venceu apenas uma capital, Vitória. O candidato, Delegado Pazolini, derrotou o ex-prefeito João Coser, do PT. Nome tradicional da legenda e mais moderado, Coser era uma das principais apostas do PT.