O Estado de São Paulo, n.46314, 06/08/2020. Economia, p.B3

 

Projeção vê poupança abaixo da inflação

Mateus Apud

06/08/2020

 

 

Considerando uma estimativa de inflação de 1,63% para este ano, investidor perde 0,23 ponto porcentual do seu dinheiro com aplicação

Com a redução da Selic (a taxa básica de juros) para 2% ao ano, o rendimento da poupança – a aplicação mais popular do País – ficou ainda pior, afundando de vez no território negativo. Isso porque a poupança devolve o valor investido mais 70% da Selic, somado à Taxa de Referência (TR), que está zerada. Com isso, o atual retorno é de apenas de 1,40% ao ano, sem descontar a inflação.

Para calcular o rendimento real, deve-se subtrair do ganho o IPCA do período. Como a projeção para a inflação em 2020 é de 1,63%, segundo o último Boletim Focus do Banco Central, o investidor perde 0,23 ponto porcentual em poder de compra deixando o dinheiro na poupança.

Para exemplificar: quem aplicar hoje R$ 100, terá na conta R$ 101,40 daqui a 12 meses. Porém, com o desconto da inflação, o saldo real a valores presentes será de R$ 99,77. Ou ainda: quem coloca R$ 5 mil na caderneta, recebe R$ 5.070 após um ano, mas na verdade está perdendo R$ 11,50 devido à variação do IPCA.

De acordo com o BC, o saldo da poupança encerrou o mês de julho em R$ 967.721.746 bilhões. Ou seja, quase R$ 1 trilhão investido tem rentabilidade menor do que a inflação.

Vale lembrar que a inflação ainda está bem abaixo do centro da meta, de 4%, valor definido pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) para 2020, com um intervalo de 1,5 ponto porcentual para cima e para baixo.

Dessa forma, se o IPCA subir nos próximos meses, o retorno da aplicação ficará ainda mais negativo. "É hora de sair da poupança", diz Cynthia Trisuzzi, analista de produtos da Ágora Investimentos, ao E-investidor, serviço de finanças pessoais do Estadão.

Cálculo. Segundo especialistas, mesmo a poupança apresentando retorno real negativo, seu cálculo não deve ser alterado. Cynthia aponta que o mercado chegou a especular sobre a alteração da conta para 70% da Selic mais IPCA, mas a ideia não foi levada adiante. "Não há nenhuma previsão para mudar e tornar a poupança mais vantajosa", diz a analista da Ágora.

"As prioridades do momento estão em torno da pandemia e das reformas. Então, não há interesse e tempo para mudar a poupança mesmo com o rendimento real negativo", afirma Claudia Yoshinaga, coordenadora do Centro de Estudos em Finanças da FGV EAESP.

Nesse cenário, Claudia orienta os investidores a procurarem outros investimentos. "Fica como lição que é função do investidor buscar melhores alternativas."

Para Bruno Mori, planejador financeiro CFP pela Planejar, o dinheiro alocado na poupança deve ser utilizado como reserva de emergência. "Tem de ter disponibilidade e risco baixo." Assim, os produtos indicados por especialistas para substituir a poupança são os CDBS de liquidez diária, fundos de investimentos de renda fixa e títulos públicos ligados à inflação. "Como alternativa para o investidor que está acostumado com a poupança, essas aplicações são opções com rendimento melhor e com segurança e liquidez iguais", afirma Mori.

Em relação aos CDBS, Cynthia ressalta que qualquer um que tenha rentabilidade superior a 91% do CDI já tem retorno melhor que a poupança. "A única diferença é que nele é cobrado Imposto de Renda e na poupança, não. Porém, a rentabilidade é maior e acaba compensando", diz a analista da Ágora.

Já em relação aos fundos, Mori destaca que é muito importante o investidor ficar atendo às taxas de administração. Se forem muito altas, os ganhos podem ser praticamente zerados. Por isso, é importante sempre buscar taxas menores do que 1%. "Os ganhos não são muito grandes, pois nesse caso o objetivo é ter liquidez, e não rentabilidade."

Sobre os títulos públicos atrelados à inflação, a coordenadora da FGV ressalta que o volatilidade é um pouco maior. Porém, são um boa maneira de ter rentabilidade acima da inflação. "São bem atrativos, pois pagam o IPCA mais uma taxa pré-fixada", diz Claudia.

Volume

R$ 967,7 bi

foi o saldo da poupança no encerramento de julho, de acordo com dados do Banco Central. Especialistas dizem que modelo atual de remuneração não garante nem a reposição da inflação.