O Estado de São Paulo, n.46315, 07/08/2020. Metrópole, p.A10

 

Defesa suspende ação do Ibama contra garimpo ilegal

Giovana Girardi

07/08/2020

 

 

Operação no Pará foi interrompida 'para reavaliação'; ministro do Meio Ambiente foi visitar a área na véspera

Uma operação do Ibama contra garimpo ilegal que estava sendo feita na Terra Indígena (TI) Munduruku, no Pará, foi suspensa ontem por decisão do Ministério da Defesa. Três helicópteros do órgão ambiental que estavam na base aérea da Serra do Cachimbo foram proibidos de decolar, conforme informações obtidas pelo Estadão.

Era uma operação do Grupo Especializado de Fiscalização (GEF), considerada a tropa de elite do Ibama. O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, foi ao local com o diretor de Proteção Ambiental do instituto, Olímpio Ferreira Magalhães, e chegou a sobrevoar no dia anterior, com jornalistas, as áreas de garimpo ilegal na TI.

A operação deveria continuar ontem, mas a fiscalização do Ibama recebeu um aviso do Ministério da Defesa suspendendo todas as ações na região. Questionada, a pasta informou inicialmente que as operações na área foram "interrompidas para reavaliação". Já à noite disse que a suspensão se deu para "avaliação de resultados, atendendo à solicitação dos indígenas." Avisou ainda que "a suspensão buscou, ainda, permitir o deslocamento de representantes dos indígenas para Brasília, para realização de encontro no Ministério do Meio Ambiente (MMA), onde puderam apresentar seus pleitos e preocupações."

Em sua conta no Twitter, Salles compartilhou na quarta um vídeo do sobrevoo com imagens que mostram a "extensão dos danos ambientais causados", conforme escreveu. Na ação, foram destruídos 3 acampamentos, 10 escavadeiras hidráulicas, 1 trator florestal, 15 bombas d'água, uma motosserra e 8 tanques de 1 mil litros para armazenar combustíveis.

Durante a operação, um protesto de garimpeiros, do qual faziam parte alguns indígenas, chegou a fechar o aeroporto de Jacareacanga, impedindo decolagem de uma aeronave da Força Aérea Brasileira, que acompanhava a operação. Vídeos que circularam nas redes sociais mostraram Salles conversando com o grupo. "O Brasil vive esse dilema de reconhecer, afinal de contas, depois de tanto tempo, que os indígenas têm o direito de escolher como querem viver, que atividade econômica querem fazer (...) dentre elas o garimpo, seguindo a lei ambiental, com os cuidados ambientais". Ao Estadão, Salles afirmou que defende que os indígenas devem ter o direito de garimpar, mas que isso seja feito de modo legal, o que demanda uma mudança de legislação. "Mas enquanto estiverem fazendo de modo ilegal, nós vamos coibir." 

Dados

Segundo levantamento do Greenpeace, de janeiro a abril deste ano houve um aumento de 58% no desmatamento para garimpo na TI Munduruku, ante igual período de 2019.