O globo, n. 31850, 19/10/2020. Sociedade, p. 13

 

Líder indígena morre de Covid-19 em meio a defesa de aldeias

Bruno Alfano

19/10/2020

 

 

Amado Menezes Filho, de 64 anos, foi uma das vozes mais importantes na luta pela proteção contra o novo coronavírus do povo Sate ré-Mawé, um conjunto de 50 aldeias no estado do Amazonas que reúne mais de 9 mil pessoas . Na quinta-feira passada, ele morreu justamente por causa da Covid-19.

De acordo com a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), o Brasil tem 36.847 indígenas contaminados e 852 mortos pela Covid-19. Por não possuírem memória imunológica para resistir à gripe mais simples, os povos nativos correm o risco de ser dizimados se o coronavírus se espalhar pelas aldeias.

- Nanny machucou um sábio, um chato, como chamamos em nossa língua, que conhecia a medicina tradicional. Quando alguém adoecia, ele era chamado. Teve falatranqu ila, mas um discurso muito firme - diz Tito Menezes, 30 anos, sobrinho dos indígenas.

Cada aldeia do povo sente re mawecon Ta tuxaua comum, ou líder local. Juntos, eles escolhem um tuxaua geral, para defender os interesses de toda a população. Nos últimos cinco anos, Amado ocupou esse cargo.

A Última Batalha do Amado foi contra o enfraquecimento, no dia 31 de maio, de uma barreira sanitária instalada no rio Marau, que dá acesso ao terreno Andirá Marau, na divisa da Amazônia com o Pará e onde vivem os Sateré-Mawé.

Foi instituído pelo Distrito Sanitário Especial Indígena (Dsei), do Ministério da Saúde, pela prefeitura de Barreirinha, município onde se localiza a aterra Andirá Maraú, e pela Fundação Nacional do Índio (Funai). O Dsei, porém, decidiu encerrar sua parte na operação, o que enfraqueceu a medida. Como resultado, os casos explodiram de 30 para 194 e as mortes na região aumentaram de apenas um para cinco.