O globo, n. 31851, 20/10/2020. País, p. 4

 

Os votos em disputa

Pedro Capetti

20/10/2020

 

 

Dados do primeiro turno das pesquisas do Ibope nas eleições para prefeituras das 26 capitais indicam que o número de indecisos, que declaram não saber em quem vão votar, chega a mais da metade dos eleitores em algumas cidades, indicando que a disputa deve se tornar acirrada nas últimas semanas de campanha. O índice varia entre 23% em Rio Branco e 54% em Porto Alegre. Em ambos os casos, as taxas foram atingidas quando a lista de candidatos não é apresentada, modelo denominado pesquisa espontânea.

Quando as alternativas são expostas à pesquisa estimulada pelos entrevistados -, a marca de 11% não é ultrapassada. Especialistas consideram que a diferença entre o percentual de "não sei" entre as duas questões mostra que o eleitor usa mais a memória do que o raciocínio, o que sugere uma possível mudança de opção de voto, ainda longe de se consolidar.

Outro desafio para os candidatos a prefeito nas capitais é o elevado número de eleitores que afirmam votar em branco ou nulo. Esse percentual chega a 27% no Rio e ultrapassa a marca de 20% também em Aracaju, Recife e Natal, cidades onde a disputa eleitoral ainda está embolizada.

AVALIAÇÃO SOBRE A GESTÃO

Cientista política e pesquisadora da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Fernanda Cavassana avalia que, em cidades onde o prefeito tenta a reeleição, o índice também pode indicar que a avaliação sobre gestão não é tão consolidada entre o eleitorado.

- Cidades com altos índices de indecisos indicam a importância de candidatos menos conhecidos investirem para chegar a esse eleitorado e se mostrarem viáveis. O eleitor que se identifica como indeciso em pesquisas sem estímulo é aquele que ainda não tem candidato favorito e, geralmente, nem sabe quem está fazendo campanha. Portanto, na pesquisa estimulada, há uma diminuição do número de indecisos, porque opções são colocadas a ela. Neles, também há chances maiores desse eleitor de indicar um dos primeiros citados pela pesquisa - afirma Fernanda.

No caso de Porto Alegre, que lidera o índice de indecisão, o prefeito Nelson Marchezan (PSDB) é candidato à reeleição. Mas em meio a uma turbulência política que levou ao ajuizamento de um pedido de impeachment, ele é rejeitado por 37% do eleitorado - quando o entrevistado, ao encontrar a lista, aponta os candidatos nos quais não votaria.

Em todo o país, há diferenças no perfil do eleitor que ainda não definiu em quem votar. Em São Paulo, Rio, Belo Horizonte, Recife e Goiânia, o percentual de indecisas supera significativamente o de homens, de acordo com as pesquisas do Ibope analisadas pelo mundo.

Na capital mineira, 46% das mulheres eleitorais estão nessa situação - a diferença em relação aos homens chega a 11 pontos percentuais. Na capital goiana, 53% das mulheres relataram não saber em quem votar, contra 37% dos homens.

No Rio, em São Paulo e em Porto Alegre, a indecisão também é maior entre os eleitores com menor escolaridade e renda. Na capital paulista, 50% dos eleitores com renda de até um salário mínimo não definiram o voto. Quando considerada a faixa de maior renda (mais de cinco salários mínimos), essa proporção

cai para 28%. Entre os que possuem ensino fundamental, 47% são indecisos, contra 35% do grupo com ensino superior.

Na capital gaúcha, entre aqueles com renda familiar de até um salário mínimo, 64% estão indecisos, dez pontos percentuais a mais que a média da cidade (54%).

No Rio, assim como em Belo Horizonte, Porto Alegre e Goiânia, os mais jovens são outro extrato do eleitorado com alta proporção de eleitores que ainda não definiram o voto.

Na capital fluminense, 43% dos entrevistados com idade entre 16 e 24 anos não escolheram candidato. Esse percentual é de 37% na cidade de Minas Gerais. Nas demais faixas etárias, os percentuais se aproximam da média das capitais. Em Porto Alegre, além dos mais jovens, os mais velhos também estão entre os que não sabem, na ponta da língua, em quem votar.

Nas maiores cidades das regiões Norte e Nordeste, os evangélicos se destacam entre os indecisos. Em Belém, 53% dos eleitores desse estrato não sabem em quem votar. Em Manaus, é de 43%. Nas duas cidades, a indecisão também é maior entre os que concluíram apenas o ensino fundamental. Em Salvador, 41% dos evangélicos não sabem em quem votar, enquanto entre os católicos esse percentual é de 35%.

CAMPANHA NA TV

Na avaliação de Victor Scalet, analista político da XP, a tendência é que o índice caia nas próximas semanas com a intensificação da campanha televisiva, deixando as intenções de voto mais consolidadas.

- O número de indecisos caiu muito rapidamente, já identificamos isso nas pesquisas que fizemos. O calendário eleitoral começou há pouco tempo, por isso há espaço para repercussões nas próximas semanas - aponta.

Tradicionalmente, o interesse do eleitor aumenta à medida que o processo se aproxima. Portanto, a expectativa é que a diferença entre espontâneo e estimulado diminua. Segundo pesquisa do XP, 41% dos entrevistados em São Paulo disseram ainda não ter assistido a nenhuma propaganda política na TV, seja no quarteirão do meio do dia e no final da noite ou nas inserções. Além disso, os dados do Google indicam um aumento gradual na busca por assuntos relacionados a eleições.

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No Rio, 80% não conhecem os vices dos candidatos

Jan Niklas

Vitor da Costa

20/10/2020

 

 

Índice é maior entre os jovens e chega a 84% no eleitorado entre 16 e 24 anos, segundo pesquisa mais recente do Ibope

 Além do alto grau de indecisão, as pesquisas indicam que a maioria absoluta do eleitorado desconhece quem são os vícios que compõem as placas dos candidatos em que pretende votar. No Rio, segundo o levantamento mais recente do Ibope, o índice de ignorância chega a 80%.

O número é ainda maior entre os mais jovens, chegando a 87% no eleitorado de 16 a 24 anos, e é de 84% entre os que recebem de dois a cinco salários mínimos.

À frente nas intenções de voto, o candidato do Dem a Prefeito do Rio, Eduardo Paes, escolheu um nome da política tradicional para estar ao seu lado: Nilton Caldeira, PL. No período pré-eleitoral, o ex-prefeito tentou atrair o PSL para a chapa, mas a iniciativa não prosperou.

Caldeira já foi subsecretário de Gestão Habitacional do prefeito Marcelo Crivella (republicanos), hoje adversário da chapa, e ocupou cargo comissionado no Instituto Estadual do Meio Ambiente (Inea), órgão do Governo do Rio, antes de aceitar o cargo de vice.

Já Crivella optou por dar a vaga a um nome que impulsionasse a estratégia de buscar o voto bolsonarista. Dentro desse objetivo, a Escolhida foi a Tenente-Coronel Andréa Firmo, a primeira mulher do Exército a comandar uma base militar em missão da Organização das Nações Unidas (ONU), na África. Como católica, ela também era vista pelos aliados do prefeito como alguém com capacidade de ampliar o espectro de apoio a Crivella, intimamente ligada ao eleitorado evangélico.

Logo no início da campanha, a imagem de André com uniforme semelhante ao do Exército foi utilizada em material eleitoral, o que provocou a abertura de inquérito na esfera administrativa das Forças Armadas.

A candidata do PDT, Martha Rocha, atraiu à chapa o PSB, partido que chegou a falar em uma possível aliança com o postulante da rede, Eduardo Bandeira de Mello. O escolhido para vice foi o produtor cultural Anderson Quack, que foi candidato a deputado federal pelo PSOL - obteve pouco mais de dois mil votos em 2018.

Após o naufrágio do plano de aliança carioca entre PT e PSOL, com a renúncia do deputado federal Marcelo Freixo, o PT lançou Benedita da Silva. O cargo de deputado ficou com a deputada estadual Rejane, do PCdoB, que está sem o segundo mandato na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj).