Correio braziliense, n. 20988, 10/11/2020. Política, p. 3

 

Araújo vê alinhamento com Europa

10/11/2020

 

 

O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, buscou passar, ontem, uma imagem de alinhamento entre Brasil e Europa em relação às pautas ambientais, apesar das recentes pressões vindas de países daquele continente devido ao aumento do desmatamento e queimadas.

Araújo afirmou que o Brasil compartilha diversas características com a Europa, como preocupação maior com os mais vulneráveis e com o desenvolvimento sustentável. No entanto, conforme o chanceler, existem correntes simpáticas "a um cartel político criminoso" na América do Sul que "não querem que se enxergue essa profunda sintonia" entre o governo do presidente Jair Bolsonaro e a Europa.

"Querem criar desacordo e animosidade entre nós. Para isso, usam um tecido muito denso e sofisticado de desinformação em torno, principalmente, do tema ambiental. É preciso entender quem são aqueles que querem nos dividir, quem são aqueles que querem que a Europa enxergue o Brasil, no momento, por uma lente completamente distorcida", disse, sem citar nomes. As declarações foram gravadas e transmitidas no 6º Simpósio sobre Segurança Regional Europa-América do Sul.

Para o ministro, as ações são, em grande parte, daqueles que não querem uma parceria entre Brasil e Europa "no combate ao crime organizado e suas conexões políticas". "Quanto mais atuarmos em conjunto no combate ao crime e em favor da segurança, mais ficará evidente a sintonia e a irmandade de sentimentos e objetivos que nos une. A diplomacia brasileira quer se constituir, hoje, num instrumento de defesa desses valores, diante da ameaça representada pelo cartel político criminoso", frisou, também de maneira genérica.

No ano passado, Alemanha e Noruega suspenderam repasses ao Fundo Amazônia, após discordar do governo Bolsonaro, alegando que não estavam vendo ações efetivas para conter os níveis de degradação ambiental. Na última semana, o vice-presidente Hamilton Mourão fez uma viagem à Amazônia com embaixadores de Alemanha, África do Sul, Espanha, França, Portugal, Reino Unido, Suécia, Canadá, Colômbia e Peru. O objetivo era, justamente, mudar a imagem de que o país não tem combatido desmatamento e queimadas na região.

Venezuela
No discurso na abertura do simpósio, Araújo afirmou que nunca foi tão importante uma colaboração pela segurança entre Europa e América do Sul. Conforme o ministro, existe uma tendência de consolidação "de uma grande rede de todos os tipos de crime com correntes políticas totalitárias ou simpáticas ao totalitarismo". Para o chanceler, é preciso reconhecer o problema, que também afeta a Europa, e enfrentá-lo em conjunto com o Brasil.

O primeiro fator a entender, segundo ele, "é a operação desse cartel político criminoso". "Que podemos classificar como um iceberg, cuja ponta apenas é na Venezuela, no regime que lesa a humanidade, de Nicolás Maduro. A Venezuela se tornou o paraíso do crime organizado e do terrorismo", criticou. Ele afirmou que "esse cartel, a partir da América do Sul, afeta todas as regiões". (ST)