Correio braziliense, n. 20988, 10/11/2020. Economia, p. 6

 

Desemprego continuará elevado, admite BC

Marina Barbosa 

10/11/2020

 

 

Apesar de já apresentar sinais de recuperação econômica, o Brasil deve conviver com uma taxa de desemprego elevada por algum tempo após a pandemia da covid-19, segundo o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Ele explicou que o novo coronavírus acelerou o uso da tecnologia e disse que, por isso, nem todos os profissionais tiveram tempo de se preparar para o novo mercado de trabalho. Porém, avisou que o Brasil não tem espaço fiscal para lançar programas sociais com foco nesses desempregados, como outros países devem fazer.

A perspectiva de retomada lenta do emprego já estava na conta de boa parte do mercado. Tanto que, logo depois de o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informar que o desemprego bateu o recorde de 14,4%, atingindo 13,8 milhões de pessoas, muitos analistas avisaram que a taxa ainda deve crescer, podendo chegar a 16% no início do ano que vem.

Porém, só ontem foi admitida pelo governo. O ministro da Economia, Paulo Guedes, segue dizendo que a economia e o emprego estão numa retomada em V no Brasil.

"Temos o consumo voltando rápido, o Produto Interno Bruto (PIB) voltando rápido, mas o emprego não", disse Campos Neto, em evento promovido pela revista inglesa The Economist. Ele explicou que o desemprego será um desafio para o Brasil e os demais países emergentes, porque a pandemia acelerou o uso da tecnologia e mudou o padrão de consumo das pessoas tão rapidamente que não deu tempo de muitos trabalhadores, sobretudo os informais, se a adaptarem a um mercado de trabalho cada vez mais digital. "Teremos mais empresas de tecnologia tirando empregos, especialmente de informais", alertou o presidente do BC.

Pesquisa divulgada recentemente pelo Fórum Econômico Mundial corrobora com as projeções do BC. Segundo o estudo, até 85 milhões de empregos podem ser substituídos por máquinas nos próximos cinco anos no mundo, e essa mudança tem ganhado força no Brasil, onde 92% das companhias aceleraram a digitalização dos processos de trabalho e 68%, a automação de tarefas durante a pandemia. Por outro lado, o fórum acredita que 97 milhões de empregos mais qualificados devem surgir nesse processo. Porém, o estudo também mostra o desafio que será ocupar essas vagas no Brasil, pois revela que só 36,9% da população brasileira em idade de trabalhar tem habilidades digitais, e apenas 16,5% têm uma educação avançada — índices piores que os de países como Índia e Argentina.

Roberto Campos Neto acrescentou que a saída da crise tende a ser mais inclusiva, com governos de todo o mundo reforçando políticas sociais para atender à população mais pobre e aos desempregados. Porém, alertou que, no Brasil, a dívida pública vai saltar para quase 100% do PIB neste ano por conta dos gastos já realizados no enfrentamento da covid-19. "Os governos terão de fazer mais programas e isso vai aumentar a dívida. A questão é: temos espaço fiscal para isso ir muito longe? Nos mercados emergentes e, especialmente, no Brasil, que tem uma dívida alta, a resposta é não", afirmou.

Ele admitiu, contudo, que a retirada dos auxílios emergenciais implementados na pandemia será difícil e vai exigir coordenação entre Executivo, Legislativo e Judiciário no Brasil. "Ter coordenação para gastar é mais fácil. Na saída, será muito mais difícil", pontuou Campos Neto, que pode ter que se debruçar sobre essa questão do emprego mais à frente já que o projeto aprovado pelo Senado na semana passada para conferir autonomia ao Banco Central diz que a autoridade monetária deve assegurar a estabilidade dos preços, mas também buscar, na medida do possível, a suavização dos ciclos econômicos e o pleno emprego.

Segundo o presidente do BC, para resolver esse problema o Brasil precisa atrair investimentos produtivos, capazes de gerar emprego e renda. Dados do BC, contudo, mostram que o Investimento Direto no País (IDP) despencou 73% nos 12 meses encerrados em setembro. A queda é reflexo da crise da covid-19 e das incertezas em relação à sustentabilidade fiscal do país. Por isso, o BC também tem defendido a retomada da disciplina fiscal e a manutenção do teto de gastos em 2021.

_____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Pix pode ajudar a retomada econômica 

10/11/2020

 

 

O Banco Central (BC) e a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) acreditam que, ao oferecer pagamentos rápidos e baratos, o Pix pode contribuir com o processo de recuperação da economia brasileira. E garantem que os sistemas das instituições estão prontos para o lançamento do sistema de débito instantâneo, que começa a rodar de forma integral no Brasil na próxima segunda-feira.

"A economia tende a ganhar mais velocidade e ritmo, já que os recursos vão cair de forma instantânea. Acredito no grande potencial que o Pix tem de auxiliar a economia nesse momento de retomada do crescimento", afirmou o presidente da Febraban, Isaac Sidney de Menezes, que também vê o novo mecanismo como um propulsor da inclusão bancária, devido à facilidade de acesso ao sistema.
"É uma poderosa ferramenta para impulsionar a bancarização no médio prazo, trazendo novos clientes para o setor financeiro", afirmou Sidney, em live realizada ontem pela Febraban para esclarecer as principais dúvidas sobre o novo método de transação.

Praticidade
O Pix promete realizar pagamentos e transferências em menos de 10 segundos, a qualquer hora do dia em qualquer dia do ano. Poderá ser acessado pelo celular, pelos aplicativos bancários usados pelos clientes, para garantir uma experiência fácil. E, segundo os bancos, tende a ser mais barato que os atuais meios de pagamento — como reforçou o diretor de Organização do Sistema Financeiro e Resolução do BC, João Manoel Pinho de Mello.

"A diminuição do custo de transação faz com que haja mais negócios, que não ocorreriam se o custo fosse alto", afirmou o diretor. Ele concordou que o Pix pode contribuir com a retomada econômica. "Cai o custo de transação, há mais atividade econômica e mais bem estar", explicou.

A redução de custos, contudo, também deve afetar as receitas bancárias, segundo instituições como a Moody's. Porém, Sidney garantiu que esse impacto será "mais limitado do que se especula". Ele explicou que, hoje, mais de 60% das contas bancárias já não cobram nenhuma tarifa do cliente que faz uma transferência e ressaltou que o Pix não vai provocar o fim do DOC e da TED. "Todos os serviços continuarão convivendo, com finalidades e formas distintas. O Pix vai ser mais uma forma. Vai ficar ao critério de cada cliente a melhor opção", afirmou. (MB)