Correio braziliense, n. 20989, 11/11/2020. Brasil, p. 5

 

País testa outras três vacinas

Edis Henrique Peres

Natália Bosco 

11/11/2020

 

 

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) anunciou ontem que manterá a suspensão dos testes da vacina CoronaVac, do laboratório chinês Sinovac em parceria com o Instituto Butantan. O imunizante, contudo, é somente um dos quatro que contam com pesquisas clínicas autorizadas no Brasil. Além dele, há as vacinas da Universidade de Oxford em parceria com a AstraZeneca e das farmacêuticas Janssen-Cilag e Pfizer-Wyeth.

Segundo dados da Anvisa, juntas, as três vacinas têm 20.660 voluntários brasileiros a partir dos 16 anos. A CoronaVac era, até a paralisação dos estudos, o imunizante com maior número de voluntários no país, com 13.060 pessoas de idade igual ou maior que 18 anos.

A infectologista e assessora da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) Eliana Bicuda ressalta que, apesar do grande número de medicamentos e vacinas em testes pelo mundo, "é só a partir do momento em que se entra nas fases 2 e 3 da vacina que o número vai reduzindo. São poucos os que chegam à terceira fase (de testes), quando já se tem certeza que a vacina imuniza, que é segura, tem poucos efeitos adversos e apresenta uma imunização prolongada".

No entanto, embora haja um alto número de testes e certo otimismo a respeito das pesquisas, Bicudo destaca que "não teremos uma vacina para ser comercializada ou distribuída em larga escala até o fim do ano. Lembrando que a vacina deve estimular a produção de anticorpos para a proteção do organismo. E por agora ainda precisamos dos resultados efetivos, ou seja, o grupo que recebeu a vacina em teste não pode ter contaminação ou ao menos deve ter pouca contaminação em relação ao grupo que recebeu placebo".

Fase 3
A vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford, no Reino Unido, em parceria com a farmacêutica AstraZeneca é uma das vacinas que estão em testes. A Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) também coordena testagens do imunizante no Brasil, com cerca de 10 mil pessoas.

A farmacêutica norte-americana Pfizer e a empresa de biotecnologia alemã BioNTech também trabalham em uma vacina contra a covid-19. O imunizante, em duas doses, carrega um RNA mensageiro que estimula o organismo a produzir uma proteína específica do coronavírus. O objetivo é que o sistema imunológico reconheça a proteína como antígeno e crie imunidade contra a doença. No Brasil, o Centro Paulista de Investigação Clínica (Cepic) testa a vacina em duas mil pessoas. Na segunda, a Pfizer anunciou que os estudos apontam uma eficácia "superior a 90%" na prevenção da doença.

Johnson & Johnson também participa da corrida à procura de um imunizante. A expectativa é que os testes englobem 60 mil participantes. A vacina BCG, velha conhecida e famosa por causar uma pequena "marca" no braço de quem a recebe, é investigada por pesquisadores australianos. O Instituto de Pesquisa Infantil Murdoch analisa se a vacina responsável pela prevenção de formas graves de tuberculose seria capaz de uma proteção parcial contra o coronavírus. No Brasil, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) coordenará os testes em três mil profissionais da saúde quando houver liberação pela Anvisa.

*Estagiários sob supervisão de Andreia Castro