Título: Ataque autorizado
Autor: Craveiro, Rodrigo
Fonte: Correio Braziliense, 04/04/2013, Mundo, p. 26

Exército norte-coreano recebe aval para lançar arma nuclear. Estados Unidos enviam bateria antimísseisNotíciaGráfico

As Forças Armadas da Coreia do Norte receberam o sinal verde para lançar um eventual ataque nuclear contra os Estados Unidos, enquanto o regime comunista escalou, de forma surpreendente, a retórica bélica. "A operação sem compaixão das Forças Armadas foi finalmente examinada e ratificada. (...) O momento da explosão se aproxima rapidamente. Ninguém pode dizer se a guerra ocorrerá ou não na Coreia ou se ela começará hoje ou amanhã", afirmou um comunicado divulgado na manhã de hoje (hora local) pela agência norte-coreana KCNA. "Nós formalmente informamos a Casa Branca e o Pentágono que a crescente política hostil dos EUA em relação à Coreia do Norte e sua imprudente ameaça nuclear serão esmagadas pela forte vontade dos militares unidos, do povo e de ogivas nucleares menores, mais leves e diversificadas", acrescenta a nota do Estado-Maior do Exército Popular da Coreia. O secretário de Defesa americano, Chuck Hagel, admitiu a gravidade da situação. "Eles têm capacidade balística e aumentam sua perigosa retórica bélica. (...) Isso supõe um perigo real e claro aos interesses dos aliados dos EUA na região."

O governo dos EUA respondeu rapidamente e exigiu que Pyongyang pare de fazer ameaças. "A Coreia do Norte deve parar com suas provocações ameaçadoras e se concentrar em respeitar suas obrigações internacionais", recomendou Caitlin Hayden, porta-voz do Conselho Nacional de Segurança, que se referiu ao comunicado norte-coreano de "ameaças inúteis e pouco construtivas", que contribuem com o isolamento do regime. O Pentágono anunciou o envio do sistema de defesa THAAD à Ilha de Guam, no Pacífico, para interceptar mísseis. Na véspera, já tinha mobilizado dois destróieres e um radar espião.

Até o fechamento desta edição, Pyongyang mantinha a proibição da entrada de funcionários sul-coreanos no complexo industrial de Kaesong — a restrição levou a Rússia a qualificar a crise de "explosiva". Os 861 sul-coreanos que estavam no local tinham a autorização para sair. O acesso a Kaesong, um dos símbolos da desejo de cooperação intercoreano, tinha sido bloqueado uma única vez, em 2009. O governo da Coreia do Sul anunciou a disposição de usar a força para proteger a segurança de seus cidadãos, em caso de necessidade. "Temos preparado um plano de emergência, inclusive uma possível ação militar", afirmou Kim Kwan-jin, ministro de Defesa de Seul.

Ameaça

"A Coreia do Norte é uma ameaça real, pois a situação potencialmente envolve a China, o Japão, os Estados Unidos e a Coreia do Sul", disse ao Correio o historiador chinês Yong Chen, professor da Universidade da Califórnia-Irvine. No entanto, ele garante que Pyongyang "ainda" não tem capacidade técnica de atingir os EUA. Apesar de considerar "realmente grande" o perigo de que um conflito militar ocorra, Chen acedita que uma guerra aberta não acontecerá, ao menos por agora. O indiano Ramesh Thakur, diretor do Centro pela Não Proliferação Nuclear e pelo Desarmamento da Universidade Nacional da Austrália, lembra que nunca é tarde para evitar o "abismo nuclear". "A Coreia do Sul e os EUA devem entender que o preço do conflito será muito alto. Eles devem conversar com Pyongyang sem pré-condições", defendeu, em entrevista por e-mail.

Para Jeffrey Lewis, diretor do Programa de Não Proliferação do Leste da Ásia no Instituto Monterey de Estudos Internacionais (Califórnia), a Coreia do Norte e a Coreia do Sul tentam dar sinais de que, caso se sintam provocadas, escalarão a crise. "Ambos esperam que tais ameaças aumentem seu poder de dissuasão, mas elas também criam um sério risco de erro de cálculo", comenta. Ele explica que o cenário mais preocupante envolve uma resposta de Seul que Pyongyang poderia interpretar como o início de uma guerra. A inquietação é compartilhada pelo vice-chanceler russo, Igor Morgulov. "É uma situação explosiva. Basta um erro banal ou uma falha técnica para que a situação saia do controle." A China recomendou calma, e a França pediu uma reunião do Conselho de Segurança da ONU. Perguntado se temia um ataque nuclear norte-coreano, o chanceler francês, Laurent Fabius, respondeu: "São tão imprevisíveis que não podemos descartar nada".

A operação impiedosa de nossas forças armadas revolucionárias foi finalmente examinada e ratificada. (...) O momento da explosão se aproxima rapidamente" Comunicado do Exército da Coreia do Norte divulgado pela agência KCNA

Agora, eles têm capacidade balística e aumentam sua perigosa retórica bélica. Isso supõe um perigo real e claro" Chuck Hagel, secretário de Defesa dos Estados Unidos