O globo, n. 31852, 21/10/2020. Segundo caderno, p. 4

 

Cultura on-line está mais democrática na pandemia

David Barbosa

21/10/2020

 

 

É o que dizem 67% dos brasileiros em pesquisa sobre consumo de produção artística nesta fase

 Para mais da metade dos brasileiros, 67% deles, o acesso à cultura se democratizou nos últimos meses, por conta da pandemia, graças à explosão de ofertas de atrações na internet. E 56% da população afirma ter aumentado o interesse pelas atividades culturais online. É o que mostra levantamento do Itaú Cultural e do Datafolha, divulgado ontem. O estudo também mostrou que ouvir música e assistir filmes e séries é o que o país mais gosta de fazer na internet nesse período.

Sobre a democratização, a opinião é compartilhada por 72% dos integrantes das classes A e B, 63% das classes C e 71% das classes E.

Na avaliação de 58% dos participantes da pesquisa, as atividades culturais realizadas na web também melhoraram o relacionamento entre os moradores de uma mesma casa, principalmente para aqueles com menor escolaridade e faixa etária mais elevada.

Presa em casa de pais idosos, em Petrópolis, desde março, a estudante Mariana Moebus, de 23 anos, é uma das que afirma que a cultura ajudou a minimizar a tensão das relações durante a pandemia. Após quatro anos morando em Niterói, a jovem teve que voltar para casa para passar pela quarentena. Na vida musical, ele encontrou um momento de distração compartilhada com a família:

- Os shows de domingo são o nosso evento da semana. Nos preparamos a semana toda: compramos cerveja, fazemos petiscos. A sala vira pista de aterragem. É a nossa forma de escaparmos, juntos, do stress e dos conflitos que este momento pode causar. Embora agora estejamos saindo mais, continuamos comprometidos em nos sentarmos juntos para assistir, cantar e conversar.

O estudo foi realizado com 1.521 pessoas, de 16 a 65 anos e de todas as regiões do país, por meio de entrevistas telefônicas realizadas entre 5 e 14 de setembro - quando grande parte dos equipamentos culturais ainda estava fechada.

Além de melhorar o relacionamento, as atividades culturais realizadas online durante a pandemia também ajudaram 54% dos brasileiros a se sentirem menos sozinhos. Para 45%, o acesso à cultura pela internet reduziu o estresse e a ansiedade. E 44% viram uma melhora geral na qualidade de vida.

Para Eduardo Saron, diretor do Itaú Cultural, os resultados corroboram o impacto positivo da arte na saúde emocional das pessoas.

- As doenças no campo mental são talvez o maior legado da pandemia. Nossas emoções são muito afetadas - lembre-se. - Com essas poucas questões, já foi evidenciado como a cultura pode cumprir o papel de acolher essas questões. Pesquisas internacionais também estão avaliando isso.

MÚSICA E SÉRIE NO TOPO

E esse interesse pela cultura deve permanecer mesmo depois da pandemia, afirma Paulo Alves, gerente de pesquisas do Datafolha:

- Não é que a desigualdade tenha sido apagada, mas as pessoas de classes mais baixas têm conseguido acessar atividades culturais que antes não tinham. Isso abriu seus olhos para outras possibilidades. O índice de interessados ​​em continuar consumindo cultura no pós-andem IA é praticamente equivalente entre as aulas.

A pesquisa também rastreou quais hábitos culturais online são mais cultivados pelos brasileiros durante a pandemia. A música sai na frente: 84% dos entrevistados relataram ouvir músicas pela internet.73% assistem a filmes e séries e 60% assistem a programas. Os livros digitais são lidos por 38% dos brasileiros, mesmo um índice de pessoas que aproveitam a distância social para participar de cursos gratuitos.

As atividades infantis são acompanhadas por 28% dos entrevistados e os podcasts, ouvidos por 26%. Por fim, há espectadores de teatro, dança ou circo (21%) e visitantes de museus e exposições online (17%). Apenas 5% dos brasileiros afirmaram não ter participado de nenhuma atividade cultural na internet.

Com a reabertura de museus, cinemas e outros espaços, a tendência é que os eventos culturais realizados praticamente percam adeptos. De acordo com o estudo, os maiores afetados devem ser os programas online: 47% dos brasileiros não pretendem continuar a assisti-los no período pós-pandemia. Já 69% dos cinéfilos pretendem continuar vendo filmes e séries na web, mesmo com a volta dos cinemas.

A pesquisa também mostrou que o consumo da cultura online durante a pandemia é maior entre aqueles que participaram de atividades presenciais do mesmo sexo nos 12 meses anteriores às entrevistas. Por exemplo, 87% dos que foram ao cinema no ano passado assistiram a filmes e séries na web.