O globo, n. 31853, 22/10/2020. País, p. 13

 

Mensagens falsas sobre urna eletrônica voltam a circular

Marlen Couto

22/10/2020

 

 

Laboratório aponta difusão por antigas redes de desinformação

 Mensagens falsas sobre fraude eleitoral, que já haviam circulado nas redes sociais nas eleições de 2018, não só voltaram a se tornar virais durante a disputa municipal deste ano, mas também foram compartilhadas pelos mesmos atores. O alerta é do Digital Forensic Research Lab (DRFLab), vinculado ao Atlantic Council.

Reportagem da entidade aponta que existe uma ligação entre Alberto Silva, blogueiro bolonarista responsável pelo Pensa Brasil, e o canal “Brasil sobretudo” do YouTube, que divulgou, no último dia 13, um vídeo segundo o qual eleitores não teria condições de votar porque o Tribunal Superior Eleitoral (Tse) vai implementar este ano o voto por celular, sugerindo possível fraude no processo eleitoral.

A mensagem falsa foi verificada pelo fato ou Fake, serviço de checagem do Grupo Globo, e negada pelo TSE. O vídeo, porém, já teve mais de 36 mil visualizações no YouTube. Silva é alvo de investigação do Supremo Tribunal Federal (STF) que determina atos antidemocráticos.

O canal é monetizado, ou seja, seus donos recebem parte da receita publicitária que aparece associada aos seus vídeos.

De acordo com o DRFLab, a página está conectada a pelo menos outros quatro canais ativos e um inativo no YouTube. O mais proeminente deles é o tubo superior do Famous, que tem mais de 1 milhão de assinantes, e também divulga vídeos probolsonaro com mensagens falsas ou enganosas.

Ainda de acordo com a reportagem, o responsável por esses canais se identifica como "Rodrigo Moreno", mas seu nome verdadeiro é Dgeney Rodrigo Passos Alvarenga. É residente em Poços de Caldas (MG), mesma cidade em que vive Alberto Silva.

Além da monetização pela plataforma, o canal também faz marketing de produtos. Nele, Alvarenga orienta seus seguidores a acessarem um documento com conselhos sobre um remédio vendido por R $ 98 que promete "curar a calvície", comercializado por Alberto Silva.

Mensagens falsas sobre fraude em votos eletrônicos têm circulado com frequência nas redes sociais desde o início da campanha deste ano. No último mês, o Fato ou Fato verificou cinco rumores sobre o assunto. Pesquisadora do Drflab e responsável pelo relatório, Luiza Bandeira destaca que embora o debate sobre o tema tenha avançado no país, as mesmas redes de desinformação continuam operando em plataformas distintas:

- São os mesmos atores lucrando com isso, o que mostra que mesmo quando já identificamos aquele grupo, o agente não conseguiu atuar nele. Ele não conseguiu fazer aquele grupo parar de espalhar informações erradas sobre as urnas e o sistema eleitoral.