Correio braziliense, n. 20991, 13/11/2020. Política, p. 2

 

Corrida pelo voto dos indecisos

Wesley Oliveira

Luiz Calcagno 

13/11/2020

 

 

A 48 horas das eleições, os 19,3 mil candidatos a prefeito e 518,3 mil postulantes a vereador, nos mais de 5,5 mil municípios do Brasil, concentram as forças pelo voto dos indecisos. As principais investidas devem ocorrer pelas redes sociais, mas ligações telefônicas e carreatas fazem parte do arsenal de busca por votos.

De acordo com Melillo Dinis, analista do portal Inteligência Política, há uma expectativa de que, em alguns municípios, até 50% dos eleitores deixem para estas últimas horas a escolha do candidato a prefeito. No caso das vagas para as câmaras de vereadores, o número pode chegar a 70% de indecisos. "Por isso, os blocos de apoiadores lutarão, muito por meio das redes sociais e por telefone. A população pode esperar receber ligação, mensagem eletrônica e muita propaganda eleitoral nas redes sociais. Este momento é o sprint final, o esforço do candidato, de sua equipe e de partidos", destaca.

Outro preocupação é convencer o eleitor a votar em plena crise sanitária provocada pelo novo coronavírus. "A pandemia traz uma série de questões. Em São Paulo, houve crescimento na pressão nos hospitais, e muita gente vai deixar de votar. A minha expectativa é de que os dados de abstenção serão maiores", ressalta. Maior cidade do país, a capital paulista tem cerca de 3% dos eleitores ainda indecisos, segundo pesquisa Ibope, divulgada na quarta-feira. Em um cenário em que o prefeito e candidato à reeleição, Bruno Covas (PSDB), lidera com 32% das intenções de voto, os eleitores que ainda não definiram seu escolhido podem empurrar o pleito para o segundo turno. Atrás de Covas estão, embolados, Guilherme Boulos (Psol), com 13%; Celso Russomanno (Republicanos), 12%, e Márcio França (PSB), 10%.

A indecisão de eleitores, país afora, pode provocar resultados diferentes daqueles apontados por pesquisas eleitorais. "Estatisticamente, o voto do indeciso pode trazer surpresas para o resultado final. Muitas vezes, ele não decidiu em quem votar, mas sabe quem não quer que ganhe. Então, na última hora, pode alterar todo o cenário", afirma o especialista em direito eleitoral Acácio Miranda.

Em Goiânia, o candidato do MDB, Maguito Vilela, lidera com cerca de 30% dos votos. Em seguida, aparece Vanderlan Cardoso (PSD), com pouco mais de 20% das intenções do eleitorado. Já os indecisos representam 14%. "Nesses cenários, os indecisos poderão representar a virada de um candidato ou a vitória de quem está na liderança. Em muitos casos, quem está na liderança nas pesquisas acaba levando uma vantagem na hora de ganhar voto desse eleitorado", ressalta Miranda.

Marqueteiros da campanha do deputado federal Bacelar (Podemos-BA), que tenta a Prefeitura de Salvador, Marcos Brazão e Vitor Hugo Machado apontam as redes sociais como fundamentais para o momento. "Apostamos no alcance e no engajamento das mensagens, propostas e apresentação do plano de governo. Sempre valorizamos a mídia digital, mas a pandemia potencializou isso. Os eventos permitidos pelo TRE (Tribunal Regional Eleitoral), como carreatas e reuniões virtuais, também estão na agenda das próximas 48 horas."

Corpo a corpo
Candidata à Prefeitura do Rio de Janeiro pelo PT, Benedita da Silva apostará no corpo a corpo. "Para nós, do PT, a única estratégia que existe nas últimas 48 horas da eleição é rua, rua e mais rua. É o corpo a corpo com o eleitor e a eleitora, com a população das favelas e periferias que decidem na última hora em que vão votar", diz.

O deputado federal Vincetino Júnior, presidente regional do PL em Tocantins, acredita nas redes sociais como impulsionadoras, mas está rodando o estado para apoiar as mais de 50 candidaturas a prefeito da região. Para ele, o mais importante é o postulante ser claro e propositivo. "O povo anda desconfiado com a classe política. As pessoas estão receosas de sair de casa para dar o voto. Se não for transparente, propositivo e objetivo, o eleitor não sai de casa", argumenta.

Nem sempre, porém, candidatos se sentem à vontade para revelar as estratégias voltadas a estes dois dias. A equipe da candidata do PT à Prefeitura do Recife, Marília Arraes, disse que não comentará as ações, "fundamentais para este final de campanha". Já o candidato a prefeito de Manaus, Romero Reis (Novo), confia na sua participação no último debate de tevê, que seria realizado ontem, para convencer os indecisos. Ele se inspira na experiência do atual governador de Minas Gerais, Romeu Zema, da mesma legenda, que, em 2018, conseguiu crescer nos debates televisivos e saiu das últimas colocações nas pesquisas eleitorais para o segundo lugar no pleito, com 44,73% dos votos.

Mais internações
Com alta de infecções na classe média constatada na capital paulista, hospitais privados de São Paulo voltaram a registrar aumento de atendimentos e internações por covid-19 ao longo do último mês. Já na rede pública municipal, boletins epidemiológicos da prefeitura mostram que o índice vinha recuando significativamente mês a mês, mas acabou estacionando em novembro. No Hospital Sírio-Libanês, por exemplo, o número de internações por covid havia recuado para 80, em outubro, e, agora, voltou a registrar 120, o mesmo patamar de abril, fase mais aguda da pandemia. O Hospital Vila Nova Star, que atende, principalmente, público de alta renda, confirma, em nota, que houve "aumento no número de pacientes com suspeita de covid" no pronto-socorro, mas não informou o número de atendimentos.

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Eleitor deve apostar na experiência 

Sarah Teófilo 

13/11/2020

 

 

Num cenário bem diferente das eleições municipais de 2016, o pleito deste ano diverge em vários aspectos. O principal deles, claro, é o fato de o Brasil enfrentar a pandemia do novo coronavírus. Além de ter provocado o adiamento das eleições (de outubro para este mês), a crise sanitária escancarou as necessidades prioritárias da população. Por isso, o eleitor mira candidatos com experiência, em vez de novatos, conforme avaliam especialistas.

Cientista político e professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), Ricardo Ismael afirma que um processo eleitoral mais curto favorece os candidatos já conhecidos. Para ele, a taxa de reeleição de prefeitos, ou mesmo de candidatos apoiados pela atual gestão, deve aumentar neste ano, em comparação com 2016. Isso porque, prefeitos se cacifaram com medidas de combate à covid-19.

Ismael ressalta, ainda, que, em 2016, a Operação Lava-Jato estava no auge, e o sentimento de mudança era grande. Nas eleições gerais de 2018, a população ainda mantinha a ideia de renovação política. Foi naquele ano que o Rio de Janeiro elegeu para o governo um juiz sem experiência alguma, Wilson Witzel (PSC), que passa por um processo de impeachment.
Agora, porém, a ideia de renovação foi atenuada. "O eleitor quer bons administradores. Em um momento de crise econômica e sanitária, o eleitor não quer improvisar", ressalta o especialista, frisando que o discurso ideológico ficou em segundo plano, diferentemente do que aconteceu em 2018.

Marco Antônio Carvalho Teixeira, cientista político e professor da Fundação Getulio Vargas (FGV) de São Paulo, faz coro ao colega: a eleição deste ano não é da renovação ou do discurso anticorrupção, é da experiência. O prefeito que está bem, ou o candidato que representar a continuidade da gestão municipal bem-avaliada, obterá sucesso.
Analista político do portal Inteligência Política, Melillo Dinis aponta que, em 2016 e 2018, houve um grande investimento na ideia de novidade, mas nada de concreto foi entregue à população. Isso provocou a mudança de rumo do eleitor, além da pandemia, conforme argumenta.