Correio braziliense, n. 20991, 13/11/2020. Política, p. 4

 

Mourão não descarta ideia de expropriação

Wesley Oliveira 

13/11/2020

 

 

O vice-presidente Hamilton Mourão não pretende enterrar de vez os estudos do Conselho Nacional da Amazônia sobre a proposta de expropriação de terras em caso de crimes ambientais. O general ficou irritado com o "vazamento" do texto à imprensa, que provocou críticas do presidente Jair Bolsonaro. "Isso é um estudo. O ministério que é o responsável por isso aí, o da Agricultura, vai dizer o que cabe, o que não concorda. Não sei se vai ser analisado. Agora, com esse documento totalmente nas mãos de quem não devia estar e que vem utilizando da forma que eu não considero a mais correta...", declarou.

Mourão disse que o documento foi apresentado aos integrantes do conselho, do qual ele é presidente. Após o vazamento do documento, o general admitiu arrependimento por não ter imposto sigilo ao texto. "A finalidade era de que os ministérios estudassem essas ideias e, a partir daí, colocassem as suas opiniões para que ratificassem ou retificassem, ou seja, isso é um planejamento", argumentou. "Algum mal-intencionado pegou e entregou esse documento completo para um órgão de imprensa que, agora, diariamente, solta algumas pílulas dessa natureza, ou seja, é algo que está fora do contexto." A reportagem foi veiculada pelo jornal O Estado de S. Paulo.

A ideia foi duramente criticada por Bolsonaro. "Eu vi essa matéria do Estadão, hoje (ontem). Ou é mais uma mentira ou alguém deslumbrado do governo resolveu plantar essa notícia. A propriedade privada é sagrada. Não existe nenhuma hipótese nesse sentido", afirmou a apoiadores no Palácio da Alvorada. "E, se alguém levantar isso aí, eu simplesmente demito do governo, a não ser que essa pessoa seja 'indemissível'", emendou.

Após a repercussão negativa, Mourão afirmou que entendia a bronca de Bolsonaro. "Eu, se fosse o presidente, também estaria extremamente irritado. Eu me penitencio por não ter colocado um grau de sigilo nesse documento, porque, se eu tivesse colocado, a pessoa que vazou o documento estaria incorrendo em crime", ressaltou. Ele alegou que ainda não tinha falado diretamente com o chefe do Executivo sobre o caso.

Mais tarde, durante sua live noturna, Bolsonaro voltou a abordar o assunto. Sem citar Mourão, disse que quem aceitou integrar o governo estava ciente do seu modo de pensar. "Quando eles se casaram comigo, já sabiam das minhas virtudes e defeitos", destacou.
Ao lado da ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, o presidente comparou a proposta com a legalização do aborto. "É a mesma coisa de alguém do governo propor a legalização do aborto. A propriedade privada, eu entendo que é sagrada. Um dos tripés da democracia", emendou.