Correio braziliense, n. 20991, 13/11/2020. Brasil, p. 5

 

Voluntário morreu por intoxicação de opioides

Bruna Lima 

Maria Eduarda Cardim 

13/11/2020

 

 

Detalhes do laudo do voluntário da vacina chinesa CoronaVac confirmam a versão de "suicídio consumado" e, portanto, causa externa e não esperada de um candidato dos testes do imunizante. De acordo com novas informações divulgadas ontem pela Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP/SP), o óbito ocorreu em decorrência da ingestão de medicamento à base de opioides e sedativos combinado com álcool. A combinação, ainda em pequenas doses, pode provocar overdoses, confusões mentais, tonturas, fraquezas e dificuldades para respirar.

A informação da morte do voluntário fez a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) paralisar por quase dois dias os estudos do imunizante esta semana. A secretaria de Segurança de SP já havia confirmado ao Correio que o caso é investigado como suicídio pelo 93º DP (Jaguaré). As apurações e os laudos foram finalizados pelo Instituto Médico Legal (IML) e pelo Instituto de Criminalística e encaminhados à DP responsável.

A Comissão Mista da Covid-19 do Congresso Nacional confirmou a audiência pública com os diretores da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e do Instituto Butantan para hoje, às 9h30. O presidente da Anvisa, Antonio Barra Torres, e o diretor do Butantan, Dimas Covas, foram chamados para falar sobre a suspensão dos testes. Os dois confirmaram participação por videoconferência, de acordo com a comissão.

Bolsonaro
Na noite de segunda-feira, a Anvisa anunciou a suspensão dos testes por causa de um evento adverso grave ocorrido com um voluntário do estudo clínico da CoronaVac. No mesmo dia, o Instituto Butantan afirmou, por meio de nota, que lamentava ter sido informado pela imprensa e não diretamente pela Anvisa sobre a interrupção dos testes da vacina. Dois dias após a suspensão, a Anvisa autorizou, na quarta, a retomada dos testes com o imunizante.

Após declaração polêmica sobre ter "ganhado" do governador João Doria (PSDB/SP) ao saber da suspensão dos estudos, o presidente Jair Bolsonaro disse ontem que, caso a CoronaVac seja aprovada e autorizada pela Anvisa, ela será comprada pelo governo. "Quem vai decidir sobre a vacina é o Ministério da Saúde e a Anvisa. Se a vacina for comprovada, a gente vai fazer uma compra. Mas não é comprar no preço que o caboclo quer. A gente vai querer uma planilha de custos (...). E, no que depender de mim, não será obrigatória", destacou.

Balanço
Enquanto isso, após vários estados registrarem atrasos nas atualizações ao longo da semana, o número de novas mortes por covid-19, ontem, foi o maior desde setembro, com acréscimo de 908 óbitos. Com isso, o Brasil soma 164.281 vidas perdidas desde o início da pandemia. Em relação ao número de casos, foram adicionadas 33.207 infecções ao balanço, totalizando 5.781.582 de positivos para a doença.