Correio braziliense, n. 20991, 13/11/2020. Brasil, p. 5

 

51,7 milhões na pobreza antes da covid

Vera Batista 

Edis Henrique 

13/11/2020

 

 

O Brasil é o nono país mais desigual do mundo quando se trata de distribuição de renda. Em 2019, pré-pandemia do novo coronavírus e auxílio emergencial, a extrema pobreza no Brasil se agravou em relação a 2012. Nos últimos sete anos, a quantidade de pessoas na miséria passou de 6,5% da população para 13,5%. Isso significa que o total de extremamente pobres somava 13,6 milhões. Em relação a 2014, quando se viveu momento de alta no emprego, esse contingente aumentou em quase 4,7 milhões de pessoas. Os pretos e pardos, principalmente as mulheres, são os mais afetados, aponta a Síntese de Indicadores Sociais, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A análise dos dados é mais dramática, quando se leva em conta que, para o IBGE, é considerado em situação de extrema pobreza quem recebe menos de US$ 1,90 por dia, ou aproximadamente R$ 151 por mês, em 2019 — com base nos parâmetros do Banco Mundial. Os pobres são os que viveram com menos de US$ 5,50, ou R$ 436 no ano passado. As mulheres pretas ou pardas se destacaram entre os pobres. Embora o contingente abaixo da linha da pobreza tenha se reduzido entre 2018 e 2019, o país ainda tinha mais de 51,7 milhões de pessoas nesta condição. Ou seja, um em cada quatro brasileiros viveu com menos de R$ 436 por mês em 2019 — destes, 39,8%, extremamente pobres; e 38,1%, pobres.

Entre as chefes de família responsáveis pela criação dos filhos menores de 14 anos estava o maior índice de pobreza: 24% dos moradores desses arranjos familiares tinham rendimento domiciliar individual inferior a US$ 1,90; e 62,4%, inferior a US$ 5,50. Entre as crianças com até 14 anos, 11,3% eram extremamente pobres e 41,7%, pobres. Muito desse cenário se deve ao baixo crescimento econômico, que deixou sequelas. "O Brasil perdeu 4% do Produto Interno Bruto (PIB, soma das riquezas do país) em 2015 e em 2016; e em 2017, 2018 e 2019, a média foi de 1% de alta. Com a queda da atividade, a classe média caiu na pobreza", explica o cientista político Ricardo Ismael, da Pontifícia Universidade Católica (PUC-RJ).

As perspectivas para o futuro, na avaliação de Ismael, não são animadoras. Segundo ele, o país só voltará aos níveis de 2014 — se fizer o dever de casa —, em 2030. Para isso, será preciso a retomada do crescimento, geração de emprego e ampliação de políticas sociais, como o programa Bolsa Família ou outro que venha a substituí-lo.

Oportunidades
São vários os fatores que empurram as pessoas para a miséria, entre eles baixa escolaridade, pouca ou nenhuma oportunidade de emprego e ausência quase total de renda. E pelos dados do IBGE, apenas 13,8% das pessoas consideradas extremamente pobres estavam ocupadas no mercado de trabalho em 2019. A dificuldade em conseguir trabalho remunerado, aponta o órgão, pode explicar a estabilidade dessa população entre 2018 e 2019.

Além disso, os grupos menos privilegiados têm pouco ou nenhum acesso à escola. De acordo com o levantamento do IBGE, o jovem branco tem duas vezes mais chance de frequentar ou já ter concluído o ensino superior. Em 2019, na faixa de 18 a 24 anos, um jovem branco tinha aproximadamente duas vezes mais chance de frequentar ou já ter concluído o ensino superior que um jovem preto ou pardo: 35,7% contra 18,9%.

*Estagiário sob a supervisão de Andreia Castro