Correio braziliense, n. 20992, 14/11/2020. Política, p. 9

 

Controle na campanha pela internet

Luiz Calcagno 

14/11/2020

 

 

As redes sociais ganharam espaço nas eleições municipais durante a pandemia. Mas nem todos os partidos saíram com a certeza de que as ações pelas plataformas trouxeram o mesmo resultado que o tradicional corpo a corpo, por sua vez, relegado à segunda maior estratégia. A expectativa é de que o poder das campanhas pela internet seja mais bem avaliado após a votação de amanhã e, nos casos em que houver segundo turno, após 29 de novembro. Ainda assim, o trabalho virtual com eleitores deu forma às equipes de candidatos a prefeitos, principalmente. Mesmo em municípios menores, foram criados grupos de respostas a ataques com fake news; e juristas passaram a trabalhar mais, seja para tirar conteúdos mentirosos ou maliciosos do ar, seja para denunciar adversários.

O impulsionamento de conteúdo, que era proibido em 2016 e foi autorizado em 2018, passou a ser recomendado nestas eleições e serviu para direcionar propaganda a grupos estratégicos. Além disso, também foi possível selecionar eleitores de regiões com maior aderência a um candidato, por exemplo, e direcionar mensagens personalizadas para esses grupos. O contato por WhatsApp também se mostrou importante, sendo o uso pelos grupos o mais difícil de controlar por ser um ambiente mais propício à difusão de fake news.

Marqueteiros que conversaram com o Correio, porém, disseram que o uso de notícias falsas e perfis controlados por computador diminuiu em relação a 2018. No WhatsApp, para ter melhor controle sobre o conteúdo, muitas equipes preferiram fazer listas de transmissão, por exemplo. E os candidatos que falam com um público mais jovem, também fizeram campanha pela rede social TikTok.
José Nivaldo Júnior, marqueteiro de diversas campanhas no Nordeste, destacou que a impressão de uma recepção menor dos eleitores pela internet tem a ver, na verdade, com a participação fora da curva ocorrida na campanha de 2018. "Ali existiam temas que mobilizaram o país. A questão municipal é por natureza dispersa, de modo que não houve uma grande onda nacional", avaliou. "A campanha eleitoral é uma extensão politizada da vida social.

As redes sociais fazem parte indissociável da vida das pessoas. São uma extensão comunicativa de cada ser humano conectado. É natural que isso aconteça na campanha eleitoral, com a intensidade e a paixão próprias do período", afirmou. Nivaldo destacou que o uso das redes foi complementar, e que a opção por priorizar uma ou outra rede depende do perfil de cada candidato.

Sobre fake news, o especialista afirmou que, nas eleições municipais, não foram mais relevante que os antigos "boatos eleitorais". Mas admitiu que ainda existem candidatos usando robôs para impulsionar conteúdos e notícias falsas. "Os robôs são os principais instrumentos dos bandidos do mundo digital. Eles continuam aí. Perderam o efeito surpresa e as pessoas desconfiam quando se deparam com ações coordenadas através deles. Vão continuar aí, perigosos como assaltantes de esquina. Mas, cada vez menos decisivos para mudar comportamentos", opinou.

Fake news

Coordenadora de marketing digital de dois candidatos do Tocantins, Nana Caê segue a mesma tônica. "Essa campanha não foi tão pesada quanto a anterior. Na de 2018, o uso de robôs e fake news foi descomunal, pois não tinha o que delimitasse. Mas, as fake news continuam. Porém, todas as campanhas estão com um jurídico mais pesado. A batalha dos advogados é muito maior. Na nossa equipe, criamos um núcleo antifake news, para monitorar e buscar notícias falsas; e construir pílulas com informações corretas, links e fontes confiáveis", revelou.

Nana Caê disse ver melhor resultado no impulsionamento de conteúdo por internet que na campanha de rua tradicional. Essa última, contudo, ainda mobiliza muitos cabos eleitorais. "Uma coisa é fazer o movimento na rua, requer estrutura, combustível, pessoas se envolvendo. Na internet, atingimos mais pessoas. Conseguimos um controle e precisão maior, principalmente no impulsionamento. Temos uma previsão de quantas pessoas atingir. Quando fazemos uma caminhada, não sabemos quantas pessoas serão atingidas. Com os impulsionamentos, conseguimos atingir regiões específicas, classe social e sexo", destacou.