Título: Polícia prende sete no TRE de Roraima
Autor: Hugo Marques
Fonte: Jornal do Brasil, 11/02/2005, País, p. A5

Mulher e a sogra do presidente do tribunal estão entre os acusados de desviar verba pública com viagens fantasmas

Viagens fantasmas, fraude na concessão de horas extras, desvio de verbas destinadas às eleições do ano passado e cobrança de parte dos salários dos servidores. Este é o leque de irregularidades de que é acusada a quadrilha que atuava no Tribunal Regional Eleitoral de Roraima, presa ontem pela Polícia Federal. Entre os sete detidos, está a advogada Larissa de Paula Mendes Campello, mulher do presidente do TRE, o desembargador Mauro Campello.

A Operação Pretorium - referência ao edifício onde trabalhava o pretor (magistrado) romano - chegou a levar para a cadeia a sogra do desembargador Campello, Clementina Beltrão de Paula Mendes. Clementina decidiu colaborar com a investigação para se livrar da prisão e revelou ter recebido dinheiro de servidores. Os comissionados eram forçados a dar até metade dos salários para a família do desembargador. Alguns desses salários passavam de R$ 7 mil.

Um servidor contou ter sido cooptado pelo pelo próprio desembargador para participar do esquema. Quem não pagasse a gorda caixinha à família do magistrado era ameaçado de perder o cargo. Os motoristas Flavio da Silva Fonseca e Edimar de Mattos Costa também foram presos, acusados de distribuir o dinheiro das fraudes para a família Campello.

O esquema era conhecido por Mauro Campello, segundo a PF, mas todos os indícios de seu envolvimento serão enviados para o Superior Tribunal de Justiça, que decidirá se desembargadores podem ser investigados. Mauro Campello é influente em Roraima e, dia 17, assumiria a presidência do Tribunal de Justiça estadual.

A PF fez três buscas e apreensões - nas casas da mulher e da sogra do desembargador e na sede do TRE. A cúpula administrativa do tribunal também foi presa por envolvimento com a quadrilha. Estão na lista de presos o secretário de Administração do TRE, Vick Mature Aglantzakis; o coordenador de serviços gerais, Márcio Duarte Motta; e o diretor-geral, Elísio Ferreira de Melo.

Uma das principais fraudes detectadas foi a da ''viagem fantasma'' - falso deslocamento de servidores para fora da cidade, mesmo quando permaneciam no município, gozando das diárias. Muitos servidores viajavam para trabalhar e não trabalhavam. Faziam turismo com dinheiro público. As fraudes com horas extras aumentavam em até R$ 10 mil os salários dos servidores.

Após colaborar com a Justiça e confessar o recebimento de salários de servidores do TRE, a sogra do presidente do órgão foi libertada ontem por um juiz. Todos os presos responderão prelo crime de formação de quadrilha. A mulher e a sogra do desembargador serão indiciadas também por exploração de prestígio.

O TRE em Boa Vista informou que o desembargador estava ontem em Manaus (AM).