O globo, n. 31854, 23/10/2020. País, p. 4
Vacina eleitoral
23/10/2020
Candidatos de Rio, São Paulo e BH se dividem sobre imunização obrigatória
Sete meses depois do início da pandemia Covid-19, a busca por uma vacina contra a doença e a imunização obrigatória se tornaram cavalos de batalha às vésperas das eleições municipais. O GLOBO procurou os principais candidatos à presidência de janeiro, em São Paulo e Belo Horizonte, para saber sua posição sobre o assunto. Todos ressaltaram que é necessário garantir a segurança da vacina antes de iniciar a imunização da população. De acordo com a lei 13.979, sancionada pelo presidente Jair Bolsonaro em fevereiro, os prefeitos têm autonomia para adotar medidas sanitárias de combate à pandemia, incluindo a aplicação de vacina obrigatória.
Os candidatos das três cidades mais alinhadas ao presidente Jair Bolsonaro - que já se posicionou contra qualquer tipo de obrigação - seguiram a opinião do presidente. No Rio, depois de se declarar anteontem pela manhã a favor da vacinação obrigatória, o atual prefeito Marcelo Crivella (republicano) recuou e divulgou ontem à tarde um vídeo em suas redes sociais para dizer que estava ao lado de Bolsonaro.
- Daqui a pouco teremos nossa vacina Covid. E, veja, o presidente Jair Bolsonaro está certo. Queremos que todos sejam vacinados, mas não pode ser obrigatório. As pessoas são vacinadas se quiserem - disse Crivella.
Na véspera, o prefeito disse que se a vacina não fosse distribuída pelo governo federal, ele compraria.
- E é obrigatório começar pela população de risco, com comorbidades e mais velhas, para salvar vidas.
Em São Paulo, Celso Russomanno (republicano) foi categórico ao dizer que é contra o compulsório e também prendeu o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), que defende a medida e já entrou em colisão com o presidente na questão . Russomanno também descartou a possibilidade de exigência de vacinação para os alunos.
- João Doria não pode obrigar as pessoas a tomarem a vacina. Não será exigida vacinação para o retorno à escola, para os profissionais de saúde e nem para acesso ao benefício - afirmou a candidata.
Bruno Engler (PRTB), candidato ao bolsonarismo de Belo Horizonte, também acompanhou a malinha e descartou a possibilidade de exigir a vacinação do Covid-19 para alunos que buscam matricular-se nas escolas da cidade.
Os demais candidatos mais bem colocados na campanha carioca foram unânimes em concordar com o obrigatório. Para Eduardo Paes (DEM), que lidera a disputa, é um caso de saúde pública e o vírus é “extremamente perigoso”.
—Como gerente, devo cuidar da saúde das pessoas e não deixá-las vulneráveis. Principalmente quando as autoridades sanitárias, que entendem do assunto, recomendam a vacinação - afirmou o ex-prefeito.
Martha Rocha (PDT) argumentou que a Covid-19 é muito contagiosa e “a vacinação contra ela não pode ser uma escolha pessoal”.
- Não é uma questão de livre arbítrio, mas de controle epidemiológico. A vacinação será a melhor forma de salvar vidas.
Benedita da Silva (PT) chamou de “absurdo” ter dúvidas sobre a vacinação obrigatória.
- Isso não é um pouco de gripe. Temos um grande número de mortos, pessoas com sequelas. Não é possível não exigir que as pessoas sejam vacinadas.
EM CIMA DO MURO
O prefeito de SãoPaulo, Bruno Covas (PSDB), evitou se posicionar sobre o assunto ontem, apesar de seu padrinho político, João Doria, já ter defendido a obrigação. No entanto, na terça-feira, em entrevista à Rádio Eldorado, Covas afirmou que não havia necessidade de tornar a vacina obrigatória. Ao globo, o prefeito ressaltou apenas que a cidade está preparada para a vacinação.
- O SUS atua em São Paulo e estamos prontos para aplicar as vacinas que estão disponíveis com a tranquilidade necessária.
Márcio França (PSB) também evitou entrar na polêmica e preferiu criticar o fato de a discussão sobre vacinação ter se tornado o tema da campanha eleitoral.
-Eu não acho oportuno fazer uma discussão político-eleitoral sobre a obrigatoriedade ou não de algo que nem mesmo tem data a ser divulgada -disse França. - A vacina será obrigatória para todas as pessoas de bom senso
Para Guilherme Boulos (PSOL), somente a vacina permitirá que a pandemia seja superada definitivamente. Ele também criticou a politização do tema.
- Estamos enfrentando a maior crise de saúde dos últimos 100 anos. É inacreditável ver oportunistas como Doria e Bolsonaro querendo se aproveitar de uma tragédia como essa - disse Boulos. - O governo deve explicar ao máximo a importância da vacina, não fazer propaganda contra ela.
Prefeito de Belo Horizonte, e com chances de ser reeleito no primeiro turno, Alexandre Kalil (PSD) defendeu a obrigação e disse que a questão já está pacificada.
- Essa é uma questão superada desde Catarina, a Grande, na Rússia. Esse assunto já estava velho na revolta vacinal. Se a ciência nos apresenta uma vacina segura e eficaz, ela deve ser aplicada - argumentou.