O globo, n.31886, 24/11/2020. Sociedade, p. 15

 

Rumo à vacinação

Cristina Fibe

24/11/2020

 

 

Após a análise preliminar que comprovou até 90% de eficácia contra o novo coronavírus, a vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford (Reino Unido) em parceria coma farmacêutica Astra Zen eca submeterá os resultados à Anvisa e pedirá autorização para o uso emergencial do imunizante no Brasil.

A vacina é a quarta no mundo a apresentar resultados preliminares de eficácia, ma sé a única delas que já tem acordo fechado com o governo federal para distribuição no Brasil. Caso seja aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a vacina deve chegar à população brasileira já em janeiro de 2021.

Procurada pelo GLOBO, a Anvisa afirmou que ainda não havia recebido solicitação formal da AstraZeneca ou de Oxford para o registro emergencial da vacina e, portanto, não comentaria os detalhes.

MAIS BARATA

Segundo a coordenador a nacional dosensaiosc línicos da vacina de Oxford, Sue Ann Costa Clemens, além da autorização do órgão é preciso que as 30 milhões de doses esperadas para janeiro cheguem ao país. A partir daí, coma transferência de tecnologia acordada como governo federal, a Fio cruz deve começara produzir o imunizante no Brasil.

Costa Clemens, professora visitante da Universidade de Oxford e pesquisadora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), parceira do estudo, diz que a dosagem a ser aplicada na população será a mesma que demonstrou a mais alta eficácia nos estudos: meia dose na primeira aplicação, e uma dose inteira na segunda. Isso, ressalta a cientista, fará com que 30% mais pessoas sejam imunizadas, tornando a vacinação em massa mais barata. Segundo ela, o preço do imunizante t ambé mé oma isba ixode todas as vacinas eficazes conhecidas até agora—US $3( pouco mais de R $16) cada dose.

Ontem, a Fio cruz, que estimava inicialmente prover vacina para 100 milhões de brasileiro sem 2021, revisou o número par acima. Com ou sode meia dose na primeira aplicação, a fundação diz que poderá vacinar 130 milhões de pessoas no ano que vem — 65 milhões no primeiro semestre, e a outra metade no segundo.

O Ministério da Saúde ainda não apresentou um plano nacional de imunização para Covid-19, apesar de estar sendo cobrado desde agosto pelo Tribunal de Contas da União (TCU) para que o faça. A pasta afirmou que em breve apresentará o plano, definindo os grupos prioritários para vacinação. Nesta semana, técnicos se reúnem com os produtores das vacinas mais adiantadas.

Uma das candidatas é a CoronaVac, do laboratório chinês Sinovac,quefec hou parceria como Instituto Butantan,lig adoa o governo de São Paulo. Segundo os pesquisadores, os estudos da fase três atingiram o número mínimo de infectados necessário para iniciar o processo de análise de eficácia. Agora, o teste entra na reta final, e a expectativa do governo paulistaé que o imunizante já tenhas ido aprovado em janeiro, para, então, começara vacinara população.

Para o presidente do Conselho Científico da Sociedade Brasileira de Imunologia, João Viola, as vacinas também precisam ser analisadas de acordo com o perfil de cada estado ou país. Ele destaca que o imunizante de Oxford não precisa ser armazenado a temperaturas muito baixas, como outras que já divulgaram altas taxas de eficácia, como as da Pfizer e da Moderna.

—A vacinada P fizer provavelmente vai funcionar muito bem em uma clínica particular de imunização em São Paulo ou no Rio. Em termos de saúde pública, ela precisa ser muito bem avaliada. Fatores como armazenamento e logística de entrega alteram a eficiência de um imunizante.

A vacina de Oxford é uma versão enfraquecida de um vírus do resfriado comum, técnica já utilizada em outros imunizantes, e pode ser armazenada entre 2° e 8° Celsius.

— Em qualquer sistema de saúde no mundo você tem essas geladeiras. É uma notícia muito boa, porque se trata de uma vacina de fácil acesso — diz Costa Clemens. —A outra coisa superimportante é que temos uma indicação precoce, já que os dados sãopr eliminares, de que a vacina poderia reduzira transmissão do vírus, não só protegendo contra a doença, mas impedindo a infecção. Aí você está ajudando realmente aparara pandemia.

A cientista, responsável pela vacinação de 10,3 mil brasileiros, diz que não houve casosgraves nem de hospitalizações dentre as pessoas queto maramo imunizante. No Brasil, as pesquisas são financiadas pelo Instituto D’ O repela Fundação Lemann.