O globo, n.31886, 24/11/2020. Economia, p. 23

 

Ensino mais caro

Carolina Nalin 

Luciana Casemiro 

24/11/2020

 

 

Após um ano escolar atípico por causa da pandemia, que levou o ensino das salas de aulas para as casas e acarretou redução das mensalidades — seja por negociação ou força de leis estaduais —, as instituições abrem as matrículas para 2021 com reajustes que chegam a 5%, acima da inflação projetada pelo mercado para este ano, de 3,45%.

Além das incertezas sobre a retomada integral do ensino presencial, acrise econômica agravada pela Covid-19 tem impactado o planejamento financeiro de famílias e escolas. Pesam nas contas das instituições investimentos em tecnologia, para oferecer o ensino a distância, e em infraestrutura, para atender às exigências sanitárias. Soma-se a isso a necessidade de reajuste de funcionários e professores que, em 2020, não tiveram aumento salarial. Já do lado das famílias, em muitos casos houve perda de renda.

No Rio, parte das escolas decidiu reajustar o valor das mensalidades, levando os pais aterem de negociar abatimentos. O Colégio Santo Inácio, em Botafogo, definiu que o reajuste médio para o ano que vem será de 3,15%. No Andrews, no Humaitá, as mensalidades subirão até 4,8%. Já o Liceu Franco-Brasileiro, em Laranjeiras, terá percentuais diferentes: para quem fechar o contrato até 31 de dezembro, a alta será de 2,69%; e a partir de janeiro, de 5,38%.

RITMO LENTO DE MATRÍCULAS

Na avaliação da corretora Denise Nobre, de 40 anos, o aumento de 2,69% anunciado pela escola da filha é injusto. Além da perda de renda imposta pela Covid-19, ela ponde raque o cus todas famílias coma educação aumentou, com exigência de equipamentos de tecnologia e recursos de impressão para as atividades on-line.

— Esperávamos uma redução na mensalidade ou, pelo menos, a manutenção do valor. Afinal, o custo continua todo com agente—queixas e a corretora, que já negocia desconto coma escola.

Há instituições, no entanto, que decidiram manter as mensalidades in al ter adas.Éo caso do Colégio Cruzeiro, no Centro do Rio, e da Escola Oga Mitá, com unidades em Tijuca e Vila Isabel. Ambas ofereceram descontos este ano por conta da pandemia.

— É uma conjugação das necessidades dos alunos e das possibilidades da escola. Educação é um processo coletivo, eé necessário que pais e escola dialoguem—diz o diretor da Oga Mitá, Aristeo Leite Filho, informando que a manutenção do valor foi decidida em reunião com pais, funcionários e professores.

Luiz Henrique Mansur Barbosa, vice-presidente do Sinepe-RJ, que representa os estabelecimentos de ensino privado, destaca que a instabilidade econômica e o cenário ainda indefinido da pandemia dificultam a previsibilidade, o que se traduz em um ritmo lento de matrículas e rematrículas:

— A situação é ainda mais crítica na educação infantil, que sofreu forte evasão este ano. Muitos pais ainda aguardam uma definição se, no ano que vem, as aulas presenciais voltarão ao normal.

INVESTIMENTO EM BOLSAS

Elizabeth Guedes, presidente da Associação Nacional das Universidades Particulares (Anup), acredita que, no ensino superior, os preços devem ficar estáveis em 2021:

—Nas instituições menores, a evasão chega à casa dos 30%. Universidades de médio e pequeno porte estão se unindo para realizar vestibulares conjuntos e fazendo uma busca ativa de novos alunos. Quanto menor a instituição, maior o investimento em bolsas.

Segundo dados da Associação Brasileira das Mantenedoras do Ensino Superior (Abmes), 53% dos universitários foram beneficiados com algum tipo de desconto entre março e julho. Agora, as instituições buscam equilíbrio nas contas, sem afugentar alunos:

—Tivemos uma forte evasão este ano. As instituições não podem operar no vermelho. Por outro lado, estão abertas a atender as necessidades dos estudantes, mantendo descontos quando preciso — afirma Sólon Caldas, presidente da Abmes.