O globo, n.31886, 24/11/2020. Economia, p. 28

 

"Prorrogação de auxílio não existe”, diz Guedes

Manoel Ventura 

Marcello Corrêa 

24/11/2020

 

 

—Do ponto de vista do governo, não existe a prorrogação do auxílio emergencial. Evidente que há muita pressão política para isso acontecer, é evidente que tem muita gente já falando em segunda onda. Nós estamos preparados para reagir a qualquer evidência empírica. Se o Brasil tiver de novo mil mortes (por dia), nós já sabemos como reagir — disse o ministro, em evento virtual com investidores.

Nos últimos dias, Guedes tem negado a possibilidade de estender o pagamento do benefício, apesar de admitir que há pressão nesse sentido. Ele já havia feito essa afirmação no início de outubro, mas, nas últimas semanas, vem sendo questionado sobre o assunto, diante do aumento do número de casos do novo coronavírus no país.

MINISTRO VÊ CICLOS

Os pagamentos do auxílio emergencial começaram a ser feitos em maio. Inicialmente, iriam até julho. Depois foram prorrogados até setembro e, novamente, até dezembro. O benefício começou em R$ 600, tendo sido reduzido a R$ 300 em outubro.

Mais cedo, em evento da Firjan, Guedes afirmou que a doença “cedeu” e negou que o país esteja passando por uma segunda onda de Covid-19, apesar da tendência de aumento de casos e de mortes observada nos últimos dias em diversos estados. Ainda assim, ele admite que parece haver um repique nos números.

— A doença desceu, é um fato. Alguns dizem agora: “não, mas está voltando, (está havendo) segunda onda”. Espera aí. Nós tínhamos 1.300 mortes por dia, 1.200, 1.000, 900, 700, 500, 300… E agora parece que está havendo um repique. Mas vamos observar. São ciclos — disse o ministro.

‘CARACTERÍSTICAS SAZONAIS’

Na semana passada, o secretário de Política Econômica do Ministério da Economia, Adolfo Sachsida, disse não haver interlocução entre a equipe econômica e o Ministério da Saúde sobre as expectativas em relação a uma eventual segunda onda de coronavírus.

— A doença retrocedeu empiricamente. Mas há uma ou duas semanas ela subiu? Sim. Agora, isso quer dizer que a segunda onda chegou? Não —disse Guedes.

O ministro também falou em “características sazonais” para a doença:

— Estão querendo dizer que a doença já está aqui. Nãoéumf ato. Ofa toé que a doença cedeu substancialmente. E as pessoas, até porque a doença cedeu, saíram mais, interagiram mais, se descuidaram um pouco. Mas, ao mesmo tempo, tem características sazonais a doença, estamos entrando no verão.

O ministro voltou a dizer que o governo agirá da mesma forma, caso ocorra uma segunda onda da pandemia e se referiu a essa possibilidade como “Covid 3022”, indicando que vê esse risco como uma probabilidade distante.

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Ministro relata resistência dentro do próprio governo a privatizações 

24/11/2020

 

 

Depois de acusar parlamentares de articularem um acordo para bloquear privatizações, o ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou ontem que havia resistência também dentro do governo à venda de estatais.

— As privatizações não andaram, e eu estou convencido, hoje, de que havia um acordo político de centro-esquerda para não pautar. E dentro do governo também havia alguma resistência, em alguns ministérios. Todo ministro gosta de uma empresa que está embaixo do ministério dele — disse Guedes em evento on-line da Câmara Internacional de Comércio.

Sem dizer que ministros seriam contra as privatizações, Guedes ressaltou que, agora, todos já entenderam “a importância crucial da privatização”.

A afirmação foi dada como resposta às avaliações de analistas de que a pasta não cumpriu promessas como a abertura comercial, as privatizações e a reforma tributária.

— As coisas são entregues. Agora, tem a política. E a política às vezes anda, às vezes não anda. Às vezes bloqueia. Atrasou um pouco a administrativa, perturbou bastante a tributária. Impediu as privatizações —disse o ministro.

Sobre a abertura comercial, Guedes disse que ela não pode ser feita de forma abrupta:

—Nós somos liberais, mas não somos trouxas. Não vamos chegar agora e abrir a economia brasileira de uma vez só.