Correio braziliense, n. 20993, 15/11/2020. Política, p. 8

 

Ameaça de fracasso do bolsonarismo

Jorge Vasconcellos 

Wesley Oliveira 

15/11/2020

 

 

O presidente Jair Bolsonaro deve ser reprovado no primeiro teste como cabo eleitoral. Nas capitais, dos cinco candidatos a prefeito que receberam apoio do chefe do governo, apenas um tem chance de vitória, enquanto os demais fraquejam nas pesquisas. Em relação ao bolsonarismo como um todo, diluído entre pelo menos 19 partidos (58% do total), as previsões também são desanimadoras. Com esse cenário, possíveis derrotas em grandes capitais, como São Paulo e Rio de Janeiro, ameaçam deixar o presidente sem palanques de peso para a campanha à reeleição em 2022.

Mesmo com a promessa de que não participaria do primeiro turno das campanhas, Bolsonaro resolveu declarar apoio a candidatos a prefeito de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Fortaleza e Manaus. Na capital paulista, Celso Russomanno (Republicanos), respaldado pelo presidente e que começou liderando a disputa, está em queda livre nas pesquisas e, agora, aparece em quarto lugar. À frente na corrida está Bruno Covas (PSDB), candidato do governador João Doria, desafeto de Bolsonaro.

A queda de Russomanno nas pesquisas é resultado, em grande parte, da forte rejeição enfrentada pelo candidato e também por Bolsonaro. De acordo com pesquisa do instituto Datafolha, 63% dos eleitores paulistanos disseram que não votariam, de jeito nenhum, em um candidato apoiado pelo presidente da República. Já os que afirmaram que o apoio de Bolsonaro os levaria a votar, com certeza, em um concorrente somaram 16%. Ante esse diagnóstico, Russomanno passou a tentar descolar sua imagem da do chefe do Planalto, tendo, inclusive, retirado o nome e as citações ao padrinho político das peças da campanha.

No Rio de Janeiro, base eleitoral do presidente, o candidato bolsonarista Marcelo Crivella (Republicanos), atual prefeito da cidade, vai mal nas pesquisas. Ele aparece em segundo lugar, mas corre o risco de ser ultrapassado por Martha Rocha (PDT) ou Benedita da Silva (PT). Já em Manaus e Belo Horizonte, os candidatos do presidente são meros coadjuvantes nas respectivas disputas. Na capital mineira, Bruno Engler (PRTB) amarga um quarto lugar nas pesquisas, com apenas 4% das intenções de voto. Em Manaus, Coronel Menezes (Patriota) está na sexta colocação, com 8%.
O único candidato do presidente em boas condições é Capitão Wagner (PROS), em Fortaleza. Ele está em segundo lugar, tecnicamente empatado com o líder José Sarto (PDT), apoiado por Ciro Gomes, do mesmo partido.

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Apoio para Carlos Bolsonaro 

15/11/2020

 

 

O presidente Jair Bolsonaro deve viajar ao Rio de Janeiro, hoje, para votar e reforçar o apoio ao filho Carlos Bolsonaro (Republicanos), que concorre ao sexto mandato como vereador da capital fluminense. A ideia é reeleger o filho, mas, também, sentir como anda o apoio ao governo em seu reduto eleitoral. Na tradicional live da quinta-feira, por exemplo, pediu votos para o 02. "Dá uma força aí, pessoal. A gente agradece muito. Fico muito feliz se meu filho for reeleito no Rio de Janeiro", disse o presidente, mostrando o santinho da campanha do parlamentar.

Na sexta-feira, o 02 compartilhou o vídeo do pai nas redes sociais, mas manteve o tom cauteloso que tem adotado nas últimas semanas. "Eleição só se ganha quando se contam os votos, apesar de tudo poder acontecer de forma induzida ou natural, antes e depois do processo encerrado. Jamais cantemos qualquer tipo de grito antes do tempo", escreveu.

Há um mês, Carlos chegou a dizer que a reeleição corria risco. Nas redes sociais, ele alegou que só tinha R$ 10 mil de recursos próprios e R$ 10 mil de doações do pai para a campanha, já que decidiu não usar os recursos do Fundo Eleitoral. Por isso, pediu colaboração em dinheiro aos simpatizantes.

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O impacto da saída do PSL

15/11/2020

 

 

O fato de o presidente Jair Bolsonaro ter saído do PSL e ficado sem partido provocou uma diluição do bolsonarismo em várias legendas, nestas eleições, ressalta o cientista político Antônio Lavareda. Em muitos municípios, há vários adeptos dessa bandeira concorrendo entre si, como ocorre em São Paulo. Segundo o analista, isso evitou a união de forças em torno de uma candidatura única bolsonarista em cada uma dessas cidades.

"Eu escrevi um artigo intitulado A falta que um partido faz. Eu digo que o bolsonarismo vai sair bastante arranhado destas eleições municipais, porque o bolsonarista ficou órfão do ponto de vista partidário, já que a saída do presidente Bolsonaro do PSL foi um desastre", avalia. "O PSL tinha tudo para ser o partido com maior crescimento nestas eleições, ou seja, o bolsonarismo não tem partido, os adeptos dele estão dispersos em várias legendas. É um espetáculo de descoordenação, porque é o partido político que faz essa coordenação e negocia com os aliados."

Na visão do professor de direito eleitoral e cientista político Leonardo Monteiro, a falta do corpo a corpo dos candidatos com os eleitores, em razão da pandemia, impediu que o bolsonarismo impactasse a população. "O eleitor das eleições municipais gosta do contato com o político. Nesta pandemia, o apoio do presidente limitou-se ao virtual, e isso não costuma impactar muito. Além disso, em algumas capitais, os candidatos apoiados por ele já passam por uma resistência do eleitorado", explica.

Mesmo afirmando que não acredita nas pesquisas eleitorais, Bolsonaro já reconhece que os seus aliados não deverão ter um grande desempenho nas urnas. "Não vai ser um vídeo meu que vai mudar a situação de um candidato a prefeito. Eleição para presidente é bem diferente. Prefeito e governador, é localizada, regionalizada", disse o presidente para um aliado, na semana passada, em frente ao Palácio da Alvorada. (JV e WO)