Correio braziliense, n. 20993, 15/11/2020. Política, p. 11

 

Forças Armadas atenuam tensão

15/11/2020

 

 

O ministro da Defesa, Fernando Azevedo, e os comandantes de Marinha, Exército e Aeronáutica divulgaram, ontem, nota oficial conjunta em que tentam superar, no meio político e entre os militares, a avaliação de que há um descolamento e uma tensão entre o presidente Jair Bolsonaro e o comando das Forças Armadas. O texto destaca "a característica fundamental das Forças Armadas como instituições de Estado", e diz que isso "em nada destoa do entendimento do governo e do Presidente da República".
"O Presidente da República, como Comandante Supremo, tem demonstrado, por meio de decisões, declarações e presença junto às tropas, apreço pelas Forças Armadas, ao que tem sido correspondido", cita a nota.

O documento, assinado pela cúpula das três Forças e pelo ministro, fecha uma semana marcada por declarações do comandante do Exército, Edson Leal Pujol, que buscaram distanciar as Forças Armadas de disputas no governo. A mais recente delas foi na sexta-feira, num seminário organizado pela Escola Superior de Guerra. "Somos instituições de Estado, não somos instituição de governo, não temos partido. Nosso partido é o Brasil", frisou Pujol. "Independente de mudanças ou permanência de um determinado governo por um período longo, as Forças Armadas cuidam da nação. São instituições permanentes, não mudamos a cada quatro anos a nossa maneira de pensar e como cumprir nossas missões."

Em seguida, Bolsonaro usou as redes sociais para rebater, lembrando que foi responsável pela nomeação de Pujol e destacando seu poder como presidente da República, sob as ordens de quem as Forças Armadas estão sujeitas.

Na nota de ontem, a Defesa reforça que, quando comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica se manifestam, "sempre falam em termos institucionais, sobre as atividades e as necessidades de preparo e emprego das suas Forças, que estão voltadas, exclusivamente, para as missões definidas pela Constituição Federal e Leis Complementares".

No entanto, o texto foi visto, no meio político, como uma forma de Azevedo desautorizar Pujol e deixar claro que quem responde pelas Forças Armadas é ele. "O único representante político das Forças Armadas, como integrante do governo, é o Ministro da Defesa", cita um dos pontos do comunicado.