Correio braziliense, n. 20993, 15/11/2020. Brasil, p. 12

 

Academia condena politização da vacina

15/11/2020

 

 

A Academia Brasileira de Ciências, a Academia de Ciências Farmacêuticas do Brasil e a Academia Nacional de Medicina condenaram, em nota conjunta divulgada ontem, a politização dos ensaios clínicos de vacinas contra a covid-19 e o "mau exemplo" e "atitudes irresponsáveis" de vários governantes no enfrentamento à pandemia do novo coronavírus. Na nota, ressaltaram a importância da independência da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Na última terça-feira, a Anvisa suspendeu o ensaio clínico de fase três da CoronaVac, que está sendo conduzido pelo Instituto Butantan depois da morte de um voluntário. O presidente Jair Bolsonaro comemorou nas redes sociais a suspensão do estudo do que ele chama de "a vacina chinesa" de João Doria, governador de São Paulo, levantando suspeitas sobre a isenção da agência. As diretorias da Anvisa e do Butantan passaram toda a quarta-feira trocando acusações. O ensaio acabou sendo retomado no dia seguinte.

"As orientações sobre o registro e a aplicação das vacinas, considerando as situações específicas de nosso país, merecem muita reflexão e discussão para identificação correta dos pontos que devem nortear a estratégia comum à sociedade brasileira", diz a nota, assinada pelos presidentes das entidades, respectivamente, Luiz Davidovich, Acácio Alves de Souza Lima e Rubens Belfort Jr. "Essa questão não pode continuar a ser tratada como briga de torcida e busca de holofotes na mídia. Mais do que nunca, é necessária uma agenda comum, em que evidências científicas possam ajudar a nortear as decisões. A Anvisa, como agência máxima de saúde, necessita ser respeitada e blindada contra interesses mesquinhos e ignorantes para conseguir manter sua credibilidade."