O Estado de São Paulo, n.46322, 14/08/2020. Metrópole, p.A12

 

Bolsonaro anuncia acesso fácil a hidroxicloroquina e ivermectina

Julia Lindner

Gustavo Porto

Nicholas Shores

Marlla Sabino

14/08/2020

 

 

Ministro disse que governo negocia o preço para a compra de 4 milhões de comprimidos de hidroxicloroquina

91 DIAS sem Ministro da Saúde

Estoque zerado. 'Nós atendemos demandas', diz Pazuello

O presidente Jair Bolsonaro anunciou, na noite de ontem, que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) vai facilitar o acesso à hidroxicloroquina e à ivermectina, medicamentos defendidos por ele para tratamento do novo coronavírus, mesmo sem ter eficácia comprovada para a doença. A partir de agora, segundo Bolsonaro, não será mais necessária a retenção da receita no local da compra. Mais cedo, ministro da Saúde falou que há demanda reprimida pela substância.

"O presidente da Anvisa acabou de confirmar a informação sobre a hidroxicloroquina e a ivermectina. Você já pode comprar com uma receita simples, caso o seu médico recomende para você, obviamente", disse Bolsonaro durante a transmissão semanal que faz em suas redes sociais. Até o momento, era necessária a apresentação de receita em duas vias.

Bolsonaro disse ainda que "não tem cabimento" o acusarem de ser responsável pelo fato de o Brasil ter ultrapassado a marca de 100 mil mortes pelo novo coronavírus. E alegou que seu governo tomou "medidas concretas" mesmo antes do primeiro caso, citando o resgate de brasileiros em Wuhan.

Mais cedo o ministro interino da Saúde, Eduardo Pazuello, afirmou que a pasta não tem estoque de hidroxicloroquina para atender à demanda reprimida de Estados e municípios. Segundo ele, a pasta já distribuiu 5,3 milhões de doses do remédio. "Nosso estoque hoje, no Ministério da Saúde, é zero. Não temos nem um comprimido para atender às demandas. Nós temos uma reserva de 300 mil itens apenas para atender malária guardados, que representa algo em torno de 20% do que eu preciso por ano", disse ontem no Congresso. "Temos uma demanda reprimida hoje de mais de 1,6 milhão de doses para Estados e municípios, só hoje."

Segundo o ministro, o governo negocia o preço para a compra de 4 milhões de comprimidos do medicamento produzidos pela Fiocruz. Há ainda em torno de 2 milhões de unidades no Laboratório do Exército, que foram doadas pelos EUA. A droga precisa ser fracionada, pois está em frascos com 100 comprimidos.

Pazuello afirmou que o governo federal não conseguiu atender "nem 50%" da demanda por cloroquina feita pelos entes federados. "Coloco de uma forma bem clara que nós atendemos demandas, nós não distribuímos sem demanda, e alerto que nós não conseguimos atender nem 50% do que nos demandam", disse. O ministro foi convidado pelos parlamentares para explicar a logística de distribuição de medicamentos e testes para covid-19.