O globo, n.31892, 30/11/2020. País, p. 21

 

Liderança mantida

Simon Ducroquet

Pedro Capetti 

Marlen Couto 

Rayanderson Guerra

30/11/2020

 

 

Os resultados das  urnas mantiveram o PSDB  no posto de  partido que governa a maior parcela da população brasileira. Os tucanos estarão à frente de cidades onde moram 34 milhões de brasileiros, segundo dados do IBGE  o número é equivalente a 15% da população.

A vitória, no entanto, foi menor do que há de quatro anos. Em 2016, os municípios somavam 50 milhões de habitantes, naquele que foi o melhor resultado de uma sigla em termos populacionais desde a eleição de 2000. A liderança no quesito foi impulsionada pela reeleição do prefeito de São Paulo, Bruno Covas, assim como a eleição de João Doria tivera impacto no pleito municipal anterior.

Além disso, o PSDB teve uma boa taxa de permanência nas prefeituras que já governava. Seja por reeleição ou eleição de sucessor, 54% da população que era governada após a eleição de 2016 permanece com o partido a partir do ano que vem.

Ainda assim, em número de cidades, o desempenho não foi tão bom, já que venceu em 520 municípios, contra 806 na eleição passada. Eleitores de cidades importantes optaram por outros partidos, como os de Manaus, Belém e Porto Alegre. A novidade entre as capitais foi a vitória em Natal, com Álvaro Dias.

O MDB também manteve a posição e será o segundo partido com maior presença a partir de 2021. A legenda, que manteve Goiânia e conquistou novas capitais, como Porto Alegre, Maceió e Teresina, vai governar 27,3 milhões de brasileiros — também um número inferior ao de 2016. A trajetória é de queda: o partido terá a menor presença em prefeituras, considerando a população das cidades, desde 2000. Nesse período, o melhor momento ocorreu em 2008, quando venceu no Rio, em Salvador e em Porto Alegre.

O DEM, por sua vez, continua a tendência de crescimento de presença nas prefeituras. Em quatro anos, o partido do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, aumentou em 13 milhões o número de brasileiros comandados e chegou a 24 milhões.

Já o PSD segue o movimento de aumento desde a primeira eleição, em 2012, logo após ser fundado por Gilberto Kassab, então prefeito de São Paulo. Em 2021, o partido terá a quarta maior população sob o seu comando. Apesar de ter perdido João Pessoa, conquistou Belo Horizonte, com a reeleição de Alexandre Kalil, que se filiou à sigla em 2019, saindo do PHS. Também venceu em Guarulhos, além de ter mantido Campo Grande, onde já vencera em 2016.

Para especialistas, o resultado do segundo turno evidenciou a consolidação e ampliação do capital político dos partidos de centro.

— Candidatos moderados e de centro, seja centro-esquerda ou centro-direita, voltaram a ter destaque, ao contrário de 2018, em que o discurso ideológico prevaleceu. O eleitor não quis arriscar, preferiu a segurança — avalia o cientista político Marcus Vinicius Macedo.

Fora das capitais, o PT terá apenas a 11ª maior população governada, com 6 milhões, resultado ainda inferior ao de 2016, quando já havia registrado o pior número em décadas. As maiores cidades que o partido vai comandar são Contagem e Juiz de Fora, ambas em Minas Gerais, com Marília Campos e Margarida Salomão, respectivamente.

Para o cientista político e professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Emerson Cervi, quem venceu a eleição foi a política. Ele destaca que tiveram melhor desempenho, assim como no primeiro turno, candidatos com mais experiência e que integram partidos mais estruturados e com maior grau de “institucionalização”:

— Os candidatos não institucionalizados, da antipolítica, não foram para o segundo turno e, quando foram, saíram derrotados. Há relação também com o alto índice de abstenção. Se você tem menos participação, quem mais participa são os eleitores mais engajados, os eleitores da política. Quem se abstém e participa de forma esporádica tende a ser um eleitor da antipolítica. MDB aparece em segundo lugar, mas teve pior desempenho em vinte anos Especialistas avaliam que resultado consolida espaço de partidos de centro.