O globo, n.31892, 30/11/2020. País, p. 21

 

Pela primeira vez PT está fora das capitais

Henrique Gomes Batista 

Sérgio Roxo 

30/11/2020

 

 

Pela primeira vez desde a redemocratização o PT não conquista sequer uma capital do país em eleições municipais. O partido, que já não havia eleito nenhum prefeito no primeiro turno, sofreu duas derrotas ontem, em Vitória e no Recife.

O resultado da sigla contribuiu para que a esquerda tenha registrado, nesta eleição, o seu pior resultado em capitais desde 1985, quando havia obtido quatro prefeituras na primeira eleição municipal desde a redemocratização. Neste ano, as siglas de esquerda venceram em cinco prefeituras: Fortaleza (PDT), Recife (PSB), Belém (PSOL), Maceió (PSB) e Aracaju (PDT), todas em segundo turno e somente nas regiões Norte e Nordeste.

O resultado para o PT é pior até mesmo do que o da eleição de 2016, quando o partido sofreu um grande desgaste em virtude das investigações da Operação Lava-Jato. Naquele pleito municipal, o partido venceu em Rio Branco (AC).

O PT chegou ao recorde de nove capitais em 2004, no segundo ano do mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em 2000 e em 2008 conquistou seis capitais.

DESEMPENHO EM SP

Além de ficar fora das capitais, o PT teve seu o pior desempenho na história na cidade de São Paulo. Jilmar Tatto, o candidato da legenda na capital paulista, terminou em sexto, com 8,6% dos votos. Um resultado preocupante para a sigla que já administrou três vezes a maior cidade do país (nas eleições de 1988, com Luíza Erundina; em 2000, com Marta Suplicy; e em 2012, com Fernando Haddad).

Com o menor número de prefeituras de capitais, a esquerda passará a administrar cidades que conjuntamente têm população de 7,530 milhões de pessoas, ou 15,9% da população das capitais, o menor percentual desde 1985. Em 2016, os partidos de esquerda venceram em nove capitais. A única capital conquistada pelo PT, Rio Branco, deixou o partido com um resultado inferior ao PDT (3) e PSB (2). Estas capitais levadas pela esquerda há quatro ano somam, em números atuais do IBGE, 18,1% da população em capitais.

O melhor momento da esquerda nas capitais desde a redemocratização foi em 2012, no começo do primeiro mandato de Dilma Rousseff, quando a esquerda venceu em 14 capitais, sendo quatro pelo PT e cinco pelo PSB. Como haviam garantido a prefeitura de São Paulo, o mais populoso município do país, a esquerda alcançou o recorde de administrar 61,2% da população das capitais — o melhor resultado para este grupo ideológico desde a redemocratização.

Em 2008, a esquerda venceu em 11 capitais e passou a administrar 23,2% da população nesse tipo de cidade, resultado muito inferior ao de 2004, quando havia apenas dois anos do primeiro mandato de Lula — ali, a esquerda conquistou 16 das 26 capitais, administrando cidades que representam 41% da população das capitais. Na eleição de 2000, venceu em 12, o equivalente a 54,5% da população das capitais.

Nas eleições de 1988 foram conquistadas dez capitais, número que subiu para 12 em 1992. Em 1996, as siglas de esquerda venceram em oito capitais. Em percentual de população das capitais, os números da esquerda foram de 26,5% em 1985 para 59,5% em 1988. Depois disso caiu para 27,4% em 1992 e para 23% em 1996.

No total dos municípios do país, a esquerda conquistou neste ano 805 prefeituras — 25,7% a menos do que as 1.084 vitórias destas siglas em 2016. Todas as legendas registraram queda no número de prefeitos, exceto o PSOL, que passou de duas vitórias há quatro anos para cinco agora. A maior queda foi do PSB: redução de 38% em número de prefeituras.