O globo, n.31892, 30/11/2020. País, p. 24

 

Estado pulverizado

Bernardo Mello

Rafael Galdo 

30/11/2020

 

 

Na contramão da concentração de vitórias vista em eleições passadas, neste anoa pulverização de forças política sé atônica doestado do Rio ao fim da apuração das 92 prefeituras. A capilaridade de MDB e PP, que conquistaram quatro acada dez municípios fluminense sem 2016, deu lugara um estado dividido entre 19 legendas, o que lança incertezas sobre a formação de palanques para a disputa estadual e nacional de 2022.

Com as vitórias de ontem no segundo turno no Rio e em São João de Meriti, na Baixada Fluminense, o DEM governará quase metade dos 15,8 milhões de eleitores fluminenses a partir de 1º de janeiro, despontando assim como o partido de maior influência no estado. O PSC, apesar de sair como o partido com mais prefeituras conquistadas (11), não teve nenhuma vitória nas grandes cidades fluminenses, com mais de 200 mil eleitores. Além de ter visto sua figura de maior projeção, o governador Wilson Witzel, ser afastado do cargo, o PSC pode perder o vice Cláudio Castro, atualmente no exercício do cargo, eque estuda a migração para partidos como o PSL e o próprio DEM.

Apesar da derrota na capital com Marcelo Crivella (Republicanos), o bolsonarismo foi revigorado no segundo turno pela vitória de Capitão Nelson (Avante) em São Gonçalo. No município, que reúne mais de 1 milhão de eleitores, Nelson derrotou Dimas Gadelha (PT) por pouco mais de cinco mil votos, frustrando com isso os planos deformação de um bloco de prefeituras de esquerda na Região Metropolitana, que reuniria também Niterói, Itaboraí e Maricá, cujos prefeitos eleitos se inseriram em alianças entre PT e PDT.

Cotados ao governo do estado, o pedetista Rodrigo Neves e o petista Washington Quaquá tentavam formar um “consórcio de prefeituras” que impulsionasse um nome da esquerda em 2022. Além do revés em São Gonçalo, Caio Vianna (PDT), aliado de Neves, foi derrotado em Campos, no Norte Fluminense, por Wladimir Garotinho (PSD), filho dos ex-governadores Anthony  e Rosinha Garotinho.

— Os partidos de esquerda perderam a chance de formar este“bunkerdeg estão ”, apesar do resultado politicamente expressivo. A vitória em São Gonçalo teve o modo bolsonarista de fazer política, numa campanham arcada pelo ataqueà esquerda e ao PT—avaliou ocientist apolítico Josué Medeiros, do Núcleo de Estudos sobre a Democracia Brasileira (Nudeb) da UFRJ.

VITÓRIAS NA JUSTIÇA

O quadro de forças pode mudar, já que nove dos candidatos mais votados no estado estão com vitórias sub judice. Wladimir Garotinho é um deles, assim como Rubens Bomtempo (PSB) em Petrópolis, outra cidade com segundo turno ontem. O prefeito reeleito de Duque de Caxias, Washington Reis (MDB), foi considerado inelegível pela Justiça Eleitoral, mas obteve liminar no Supremo Tribunal Federal (STF) na semana passada e deve assumir o novo mandato.

Reis, outro nome que busca se viabilizar ao governo do estado em 2022, termina a eleição sem consolidar poder na Baixada Fluminense. A reeleição de Dr. João (DEM) em São João de Meriti frustra parte dos planos de Reis, que havia articulado o apoio do MDB a candidaturas bolsonaristas de oposição na cidade, numa tentativa de aproximação com o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ). O partido também sai enfraquecido no geral: de 23 prefeituras conquistadas em 2016, o MDB caiu para seis neste ano.

Outro que caiu foi o PP, do ex-vice-governador Francisco Dornelles, que termina com oito prefeituras, contra 19 em 2016. A principal vitória do partido foi em Nova Iguaçu, coma reeleição de Rogério Lisboa, um dos prefeitos da Baixada que vem cultivando relação coma família Bolson aro—grupo que também inclui Waguinho (MDB), de Belford Roxo, e Jorge Miranda (PL), em Mesquita.

Para o cientista político Paulo Gracino, do Instituto Universitário de Pesquisas (Iuperj) da Universidade Candido Mendes, há uma dificuldade de projeção no estado até mesmo para o DEM.

—Com todo o caos econômico e social que virá coma pandemia, não dá para dizer que o Rio seja uma boa vitrine para um governante hoje.

_______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Em Porto Alegra, Recife e São Paulo, institutos justificam resultados 

Paulo Cappelli 

30/11/2020

 

 

Dois dos principais institutos de pesquisa do país apresentaram percentuais divergentes, às vésperas da eleição, dos resultados em capitais como São Paulo, Recife e Porto Alegre. A diferença percentual entre os candidatos que se enfrentaram no segundo turno foi acima dos três pontos percentuais que, segundo Ibope e Datafolha, definem a margem de erro dos levantamento.

Em Recife, no sábado, ambos os institutos mostravam empate numérico entre João Campos (PSB) e Marília Arraes (PT), com 50% de preferência para cada candidato. Após a apuração das urnas, porém, João Campos saiu vencedor com 56,27% dos votos, ao passo que Marília Arraes recebeu 43,73%.

Em São Paulo, o Datafolha apontava vitória de Bruno Covas (PSDB) com 55% das preferências, contra 45% de Guilherme Boulos (PSOL). A diferença, contudo, mostrou-se bem maior do que a esperada, com Covas atingindo 59,38% doa votos, e, Boulos, 40,62%.

Em Porto Alegre, o Ibope apontava Manuela D’Ávila (PCdoB) numericamente à frente de Sebastião Melo (MDB): 51% contra 49%. No domingo, no entanto, Melo foi eleito com 54,63%, enquanto Manuela recebeu 45,37% dos votos.

Para Alessandro Janoni, diretor de Pesquisas do Datafolha, não é justo comparar pesquisas de véspera da eleição com o resultado das urnas.

—Depois que a pesquisa de véspera é divulgada, muitos eleitores observam o resultado desse levantamento, articulam-se e, somado a outros fatores, mudam de voto. A única pesquisa que pode ser comparada com o resultado oficia lé abocade urna, queé feita no dia da eleição e depois que o entrevistado vota. Além disso, tivemos um recorde de abstenção esse ano, que também compromete o resultado das pesquisas —avaliou.

Já o Ibope afirmou por meio de sua assessoria de imprensa que “eleições municipais, especificamente, são bastante dinâmicas, pois lidam com assuntos que impactam diretamente o eleitor e ele deixa para decidir seu voto na última hora.” Tanto Ibope quando Datafolha destacaram ainda que as últimas pesquisas apontavam que porcentagem de eleitores poderia mudar de voto ou estava indecisa.