O globo, n.31892, 30/11/2020. País, p. 27

 

Urna eletrônica

André de Souza

Carolina Brígido 

30/11/2020

 

 

Após um dia de votação sem grandes transtornos e com o sistema de apuração funcionando rapidamente, o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Luís Roberto Barroso, saiu em defesa da urna eletrônica. Ao contrário do primeiro turno, quando precisou dar várias explicações sobre problemas no e-título e a demora da apuração, Barroso só precisou falar uma vez, anunciando, pouco depois das 20h, que todas as cidades que tiveram segundo turno já tinham, naquela hora, o resultado do pleito definido.

— E assim chegamos ao fim desse processo eleitoral de 2020. Eu gosto de lembrar uma passagem de Shakespeare em que ele disse: “Vai tudo bem quando acaba bem”. Portanto, acho que temos bons resultados para celebrar —disse Barroso, citando a peça “All’s well that ends well”, escrita pelo dramaturgo inglês entre 1601 e 1608.

— Em meio a uma pandemia, uma crise humanitária, nós conseguimos realizar eleições tão seguras quanto possível, preservando esse rito da democracia e ajudando a fazer um país melhor.

Questionado sobre as declarações do presidente Jair Bolsonaro, que voltou a falar em fraudes e defendeu o voto impresso, Barroso disse que, se houver qualquer comprovação de irregularidade, a Corte vai apurar. Mas, segundo ele, nunca houve provas de fraude desde que as urnas eletrônicas começaram a ser usadas, há mais de 20 anos.

—Se o presidente ou qualquer pessoa tiver alguma comprovação de fraude, eu diligenciarei para apurar. Sou juiz e lido com fatos e provas. Portanto não posso me impressionar com a retórica política que faz parte de um jogo que não me cabe jogar — disse Barroso, em entrevista coletiva após a apuração dos votos do segundo turno.

O presidente do TSE também destacou que o Supremo Tribunal Federal (STF), do qual ele faz parte, já descartou o voto impresso.

— O presidente da República merece todo o respeito institucional, e tem o direito de manifestar livremente sua opinião. O país é livre e democrático. A verdade, porém, é que o STF já entendeu pela inconstitucionalidade do voto impresso. E não apenas pelo custo de R$ 2,5 bilhões, mas porque representaria um risco real ao sigilo para o voto. Então, objetivamente, hoje não existe a possibilidade de voto impresso porque existe uma decisão unânime em sentido diverso —disse Barroso.

Para o ministro, o voto impresso traria tumulto:

— Eu penso que o voto impresso traria grande tumulto para o processo eleitoral brasileiro, porque todo candidato derrotado ia pedir recontagem, ia haver impugnações, alegações de nulidade e judicialização do processo eleitoral. Penso que traria um grande tumulto para o processo eleitoral. É como mexer num time que está ganhando.

SEM ATAQUE HACKER

Segundo ele, não há como haver fraudes:

— Não há possibilidade de fraudar o sistema. Agora, não tenho controle sobre o imaginário das pessoas. Tem gente que acha que a Terra é plana, que o homem não chegou à Lua, que o Trump venceu as eleições nos EUA. Esse é o imaginário sobre o qual eu não tenho poder.

Barroso disse que não houve ataque hacker bem sucedido ao sistema do TSE no segundo turno. No primeiro turno, houve uma tentativa, que não se concretizou, de derrubar o site da Corte. Diretor-geral da Polícia Federal, Rolando Alexandre de Souza, disse que não poderia dar maiores detalhes sobre as investigações.