Correio braziliense, n. 20995, 17/11/2020. Saúde, p. 13

 

Alerta de vírus mortal na Bolívia

17/11/2020

 

 

Pesquisadores americanos descobriram que um vírus mortal encontrado na Bolívia pode ser transmitido de humano para humano, o que, alertam, exige uma atenção maior de autoridades mundiais. A informação foi divulgada ontem, durante a reunião anual da Sociedade Americana de Medicina Tropical e Higiene (ASTMH, em inglês), que será realizada durante toda esta semana, em formato on-line. A pesquisa também fornece evidências preliminares de que roedores com o patógeno, batizado de chapare, podem espalhar a doença para pessoas e para outros animais.

Os novos dados foram apresentados por especialistas Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), dos Estados Unidos, que realizaram análises mais apuradas após um surto da enfermidade em 2019. Cinco pessoas contraíram a nova doença em uma região rural próxima a capital La Paz, e três morreram: dois profissionais de saúde e um trabalhador agrícola da região — os ratos analisados com o patógeno foram retirados nas proximidades dessa fazenda.

"Nosso trabalho confirmou que um jovem residente médico, um médico de ambulância e um gastroenterologista contraíram o vírus após encontros com pacientes infectados, e dois desses profissionais morreram mais tarde. No caso de um deles, acreditamos que o vírus foi transmitido enquanto o profissional coletava a saliva do paciente. Agora, acreditamos que muitos fluidos corporais podem transportar o vírus", detalha, em comunicado, Caitlin Cossaboom, epidemiologista da Divisão de Patógenos do CDC e uma das autoras do estudo.

Febre hemorrágica

Inicialmente, acreditava-se que o problema de saúde se tratava de uma febre hemorrágica com sintomas semelhantes a doenças como o ebola. Até então, o único caso confirmado da doença havia ocorrido em 2004, na província boliviana de Chapare. Agora, a confirmação da transmissão do vírus de pessoa para pessoa mostra que os profissionais de saúde e qualquer outra pessoa que lide com casos suspeitos da doença correm o risco de serem contaminados.

A equipe acredita que o contato com sangue, urina, saliva ou sêmen de infectados pelo chapare pode ser uma via de transmissão do vírus. Em análises, os pesquisadores detectaram RNA viral no sêmen de um sobrevivente 168 dias após a infecção, o que também levanta a possibilidade de transmissão sexual. "É necessária ainda mais investigação para aprender sobre outras rotas potenciais de transmissão", alertam.

Os cientistas também acreditam que o vírus chapare pode estar circulando na Bolívia há vários anos, mas os pacientes infectados podem ter sido erroneamente diagnosticados como vítimas da dengue, uma doença comum na região e que pode produzir sintomas semelhantes.