Correio braziliense, n. 20995, 17/11/2020. Cidades, p. 15

 

Centro toma conta do entorno

Washington Luiz 

17/11/2020

 

 

Das 33 cidades que fazem parte do Entorno, 13 serão administradas por prefeitos do DEM a partir de 2021. O partido do atual governador de Goiás, Ronaldo Caiado, teve crescimento de 93% nesses municípios, e é a legenda com maior número de eleitos na Região Integrada de Desenvolvimento Econômico do Distrito Federal (Ride). O PP vem em segundo lugar com quatro prefeituras. Podemos e PL ficam em terceiro, com três. O PSL, partido pelo qual o presidente Jair Bolsonaro chegou à Presidência, venceu apenas em Planaltina. O PT e outras siglas mais à esquerda não conquistaram o Executivo de nenhuma cidade da região.

O cenário repete uma tendência observada a nível nacional e é diferente do que foi visto em 2016. Há quatro anos, o PSDB elegeu nove prefeitos no Entorno. Nesse pleito, os tucanos tiveram uma queda de 89% e vão administrar somente Unaí, em Minas Gerais. Ainda em 2016, o PR — hoje, PL — teve prefeitos, e o PSD, uma. Naquele ano, o DEM ganhou em Pirenópolis.

Segundo o professor da UniAraguaia, na capital goiana, e cientista político Guilherme Carvalho, a vitória dessas legendas nas eleições deste ano é justificada por dois fatores. O primeiro é a facilidade que os candidatos das agremiações mais ao centro têm para lidar com questões que envolvem a área de segurança pública, uma das prioridades para população do Entorno. Além disso, os interessados em concorrer a cargos públicos encontram vantagens e recursos quando optam por esses partidos.

"A exceção do PDT, do PSB e do PSDB, o que a gente vê são vitórias de partidos com matriz conversadora, que tendem ao bloco do Centrão da Câmara dos Deputados. São partidos que têm maior capacidade de diálogo com a agenda da segurança pública, ao contrário da esquerda, que, ao Entorno, é muito cara. Além disso, eles servem como legenda de aluguel. Quando ocorrem as mudanças partidárias, elas são as primeiras analisadas, porque são flexíveis na hora de formar chapas. São partidos de matriz fisiológicas", explica.

O DEM vai administrar desde cidades populosas, como Luziânia (sexta maior de Goiás, com 208 mil habitantes), a cidades menores, como Alto Paraíso de Goiás, que tem 7 mil moradores. Nesses dois locais, os eleitos foram Diego Sorgatto e Marcus Rinco, respectivamente. Entre os municípios que serão comandados pelo PP estão a Cidade Ocidental (Fábio Correa) e Alexânia (Allyson Silva). O Podemos, por sua vez, ganhou em Águas Lindas (Lucas da Santa Mônica), Formosa (Gustavo Marques) e na mineira Arinos (Marcílio de Tonhão).

Sobre o resultado do PSDB, Guilherme atribui o fraco desempenho ao fato de o ex-governador tucano Marconi Perillo ter perdido capital político em Goiás, após não ganhar a eleição para o Senado, em 2018, e, um ano depois, ser denunciado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. "O PSDB tem uma peculiaridade em Goiás, porque é um partido que governou o estado por 16 anos. O Marconi Perillo era muito bem aprovado no Entorno. Quando ele perde força, o PSDB também começa a se enfraquecer", avalia.

Outro partido com desempenho abaixo do esperado foi o PSL, que ganhou a prefeitura de Planaltina. A cidade será administrada pelo Delegado Cristiomário a partir do ano que vem. "Foi uma grande surpresa o PSL fazer apenas uma prefeitura no Entorno. Porque, hoje, depois do PT, ele é o partido com mais recursos do fundo partidário. Além disso, foi o partido pelo qual o presidente Jair Bolsonaro se elegeu. Porém, entre a população se identificar com as pautas bolsonaristas e apoiar os candidatos do PSL há uma distância", pondera Carvalho.

Para 2022
Os analistas afirmam que é cedo para dizer, com certeza, como a vitória de partidos mais ao centro vai influenciar na disputa de 2022. Eles concordam, porém, que o resultado vai depender de como o atual presidente Jair Bolsonaro (sem partido) conduzirá as negociações com esse grupo.

"O crescimento do Centrão não é algo que vai favorecer o presidente. Hoje, esses partidos estão fechados com o governo, mas, se lá na frente tiver um candidato mais viável, o Centrão não se incomodará, nenhum pouco, de trocar o apoio", adianta o mestre em ciências políticas Valdir Pucci.

Carvalho completa que o apoio dos prefeitos a uma possível reeleição do presidente, daqui a quatro anos, ficará condicionado ao comportamento do governo federal no pós-pandemia. "Os prefeitos de partidos fisiológicos não entram em pauta furada, quando eles veem que vão perder, eles não entram na pauta política. Se precisar, podem fazer até oposição. O Bolsonaro é bem-aceito pela população, mas pode não ser bem-aceito pela elite política. Tudo vai depender de como ele vai conduzir o processo", analisa.

Relações com o DF
O partido do governador Ibaneis Rocha (MDB) vai chefiar duas prefeituras do Entorno a partir de 2021. Mesmo não tendo ficado entre os primeiros colocados, isso não deve ser empecilho para que o Governo do Distrito Federal (GDF) negocie ações em conjunto com os prefeitos das cidades vizinhas.

"Se a gente pensar que o DEM é um aliado histórico do MDB, inclusive em âmbito nacional, a conversa vai ser muito mais fácil. O Distrito Federal e o Entorno têm problemas em comum que devem ser solucionados. Apesar de fácil, essa conversa passa, também, pelas prefeituras, governo do estado de Goiás, governos municipais e GDF. As proximidades partidárias tendem a facilitar a negociação entre os grupos políticos para buscar soluções", considera Pucci.