Título: MP indicia quadrilha do PTB que lesou Correios
Autor: Quadros, Vasconcelo
Fonte: Jornal do Brasil, 12/09/2008, País, p. A13

Roberto Jefferson é apontado como chefe do esquema.

Três anos depois de deflagrar o escândalo que abalou a República, o deputado cassado Roberto Jefferson foi denunciado, ontem, pelo Ministério Público Federal, como chefe da quadrilha que, entre 2003 e 2005, organizou o esquema de desvios de recursos da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) ­ a origem do mensalão ­ para levantar fundos de campanha para o PTB, da base governista. Estruturado numa estatal com orçamento anual de R$ 10 bilhões, o esquema do PTB, segundo os procuradores, repetiu o que ainda é uma prática sistêmica comum de corrupção na máquina pública: lotear as estatais e autarquias para extorquir empresas com negócios no governo usando correligionários indicados pelos partidos e o lobby profissional.

Tamanho do roubo

As planilhas de arrecadação de propina apontam que, num espaço de um ano e meio, o PTB se apropriou de mais de R$ 5 milhões ­ cálculo estimado pela Controladoria Geral da União (CGU) ­ a maior parte recolhida aos cofres do partido e a menor dividida entre os integrantes da quadrilha. Acobertado por investimentos no mercado financeiro, o rombo não diagnosticado é bem maior e pode ser ilustrado pelo balancete dos Correios. Em vez de continuar especulando no mercado financeiro, a estatal passou a se dedicar à atividade-fim depois que o esquema do PTB foi desarticulado e, no ano passado, obteve lucro da ordem de R$ 800 milhões, um recorde histórico. A atividade-fim ­ que consistia basicamente na venda de produtos e serviços ­ era dominada pelo PTB. O detalhamento do esquema, com testemunhos e documentos, foi feito pelo ex-diretor de Compras dos Correios Maurício Marinho, o ex-funcionário da estatal cooptado por Roberto Jefferson que aparece no vídeo embolsando a prosaica propina de R$ 3 mil. Marinho perdeu o emprego, mas fez um acordo de delação premiada e, se a quadrilha for condenada, poderá ter sua sentença transformada em perdão total. No organograma da organização criminosa, Jefferson aparece no topo, seguido pelo ex-deputado e ex-presidente da ECT, João Henrique de Almeida Souza ­ que era cota do PMDB, mas não interferia nos negócios do PTB ­ e o ex-presidente da Eletrobrás Roberto Salmeron. Na ponta operacional aparecem o ex-diretoretores Antônio Osório, Fernando Godoy e Maurício Marinho. Junto com eles operavam outros três dirigentes, Júlio Iamoto, Eduardo Coutinho Lins, e Horácio Batista, primo de Antônio Osório. O grupo foi instalado primeiro na diretora de Direitos Humanos, mas migrou para a de Administração, que cuidava da rede de negócios. ­ A quadrilha se apropriou das diretorias e passou ao achaque para financiar o projeto político do PTB. O Roberto Jefferson herdou um esquema que ainda está funcionando ­ diz o procurador João Alfredo de Paula Silva. Segundo ele, a denúncia contra Marinho, publicada em maio de 2005 pela revista Veja era apenas a ponta. ­ Mergulhamos atrás do iceberg e descobrimos um esquema generalizado de corrupção ­ afirmou.

Fraude nos contratos

O grupo se organizou em torno dos contratos de compra com fornecedores, de venda de produtos e serviços e em concessões de franquias. Entre os principais nichos da malandragem estavam a Rede Postal Noturna, Banco Postal, Correios Híbrido Postal e as franquias que, juntas, representavam um movimento anual superior a R$ 5 bilhões. Um dos contratos do Correio Híbrido Postal, estimado em R$ 2,6 bilhões, foi suspenso por causa das investigações. Os procuradores Paula Silva, Raquel Branquinho e Bruno Acioli alertaram ontem para os riscos de um violento retrocesso no combate à corrupção no Brasil. Segundo eles, o argumento de que vive-se um ambiente de "estado policialesco" é uma retaliação que visa matar as investigações contra criminosos do colarinho branco. ­ O controle tem a finalidade de intimidar as investigações contra quem tem o poder político e econômico ­ disse a procuradora Raquel Branquinho.