Título: Política no meio do caminho
Autor: Leandro, Eloisa
Fonte: Jornal do Brasil, 12/09/2008, Economia, p. A19

Enquanto três cidades do Vale do Paraíba disputam estação ferroviária, Nova Iguaçu quer mudar traçado

Para sair do papel, o projeto do trem-bala que ligará o Rio a São Paulo precisará desatar alguns nós pelo caminho. Enquanto três cidades da Região do Vale do Paraíba disputam a estação intermediária entre um Estado e outro, Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, discorda do traçado experimental apresentado por técnicos da empresa inglesa Halcrow Group, majoritária do consórcio vencedor da licitação. A discussão ocorreu durante os últimos dois dias, no workshop do projeto, na sede do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), no Rio. Técnicos da empresa visitam Nova Iguaçu hoje, para rever o percurso proposto, que cortaria o centro da cidade. A previsão é que o traçado definitivo do trem-bala, orçado em torno de US$ 12 bilhões, seja apresentado até o fim do ano. No entanto, o BNDES adiantou que o primeiro trecho pode ser anunciado pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) na próxima semana. Só o estudo de viabilidade do projeto custou US$ 300 mil, fruto do financiamento liberado pelo BNDES à iniciativa privada. A expectativa é que o trem-bala comece a operar em 2015. Para técnicos da Prefeitura de Nova Iguaçu, o traçado apresentado não seria interessantes para o município. Eles apontaram um forte impacto negativo, já que o percurso dividiria a cidade em duas partes. ­ Este projeto só é interessante para a cidade que terá uma estação, o que não seria o caso da Baixada Fluminense. Os técnicos da empresa vão visitar a cidade para entender melhor o porque não concordamos com o projeto, que seria inviável não só para Nova Iguaçu, mas para grande parte da Baixada ­ justifica o gerente de projetos da Secretaria da Cidade de Nova Iguaçu, o arquiteto André Luiz Pinto. ­ Não seria nada benéfico para nossa cidade, teríamos muitas desapropriações, o que não é bom. Seria um desastre. Teríamos vários problemas de conexão, de impacto ambiental, teríamos que reestruturar a nossa malha urbana, o que exigiria um custo muito alto. André não calculou a quantidade de desapropriações de imóveis seriam necessárias para que o trem-bala passasse por Nova Iguaçu. Entretanto, André se contradiz e esclarece que o município não é contrário à execução do projeto, mas defende uma revisão do traçado. ­ O mais viável seria o trem-bala passar pela zona norte da cidade, onde também os técnicos enfrentariam alguns problemas, como áreas de proteção ambiental. Não somos contra o projeto, mas achamos também complicada a passagem do trem-bala até pelo Rio de Janeiro devido à grande densidade demográfica ­ pontua. Segundo o secretário de Estado de Transportes, Julio Lopes, as estações da Leopoldina e do aeroporto do Galeão estão confirmadas. Entretanto, o BNDES não confirma a informação.

Disputa

A possibilidade de atrair novos investimentos para os municípios aguça a disputa entre Resende, Volta Redonda e Barra Mansa, no Vale do Paraíba. A instalação de uma estação do trem-bala numa das cidades é sinônimo de geração de renda e emprego. Entre os requisitos para abrigar a estação intermediária, a Halcrow Group leva em consideração nas cidades infra-estrutura, potencial econômico e turístico. ­ Resende passa por um crescimento muito acelerado, com investimentos atuais na ordem de R$ 4 bilhões, e tem grandes chances de ser a escolhida. A cidade é preparada para suportar este crescimento de forma planejada, sem sofrer impactos negativos ­ garante o prefeito de Resende, Silvio de Carvalho, ao referir-se ao projeto de desenvolvimento sustentável da cidade, desenvolvido pela PUC.