Título: Com medo, brasileiros tentam deixar o país vizinho
Autor: Raposo, Fred; Duarte, Joana
Fonte: Jornal do Brasil, 13/09/2008, Tema do Dia, p. A2

A tensão nos últimos dias com o agravamento da crise política na Bolívia levou um grande número de brasileiros a recorrer ao consulado de Santa Cruz de La Sierra, preocupados em como deixar o país. A informação foi divulgada ontem pelo vice-cônsul do Brasil Cláudio Bezerra. Segundo ele, entre 4 mil e 7 mil brasileiros moram no departamento de Santa Cruz.

Funcionários do consulado contaram que até semana passada cerca de 10 brasileiros se apresentavam diariamente à representação brasileira. Nos três últimos dias, o total subiu para 200 pessoas por dia.

¿ A fluência de brasileiros ao consulado é bem grande. A preocupação deles é se alguém vai tirá-los daqui ¿ relatou o vice-cônsul. ¿ Nós aconselhamos as pessoas a ficarem em casa, uma vez que há manifestações em várias partes da cidade e com uma certa violência.

Bezerra disse que não há um plano de retirada dos brasileiros da região, mas que, se a ordem for dada pelo Ministério das Relações Exteriores, existem meios para garantir a saída: "Isso é fácil e rápido".

Ele pediu aos brasileiros que ainda não estão registrados no consulado para procurarem a representação e deixarem meios de contato para uma eventual operação.

Sem plano de contingência

¿ No momento isso ainda não é cogitado, até porque a gente torce para que a situação se acalme e volte à normalidade. Ainda não estamos trabalhando com plano de contingência, porque a situação não chegou a esse ponto ¿ ressaltou.

Segundo o diplomata, a infra-estrutura da cidade está garantida, com os meios de transporte funcionando normalmente e poucos sinais de desabastecimento. Bezerra informou que, até o momento, não ocorreram ameaças ou atos de vandalismo contra a representação brasileira, que conta com dois seguranças para proteção.

Lula evita comentar

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva se recusou ontem a opinar sobre a crise política que há na Bolívia. Nos últimos dias, os protestos de grupos contrários ao presidente boliviano, Evo Morales, se tornaram mais freqüentes e mais violentos. Explosões chegaram a danificar gasodutos e a prejudicar o envio de gás natural ao Brasil.

¿ Não dá para falar sobre a Bolívia, porque tem tumulto lá e tem tumulto aqui também ¿ disse Lula, durante evento em homenagem ao presidente Juscelino Kubitschek, que completaria 106 anos se estivesse vivo.