O Estado de São Paulo, n.46326, 19/08/2020. Metrópole, p.A15

 

Gravidez teve interrupção iniciada no domingo, em meio a protestos

Pedro João

18/08/2020

 

 

Grupos religiosos fizeram barreira humana na frente de hospital; ativistas pró-aborto também foram ao local

Profissionais de saúde responsáveis pela interrupção da gestação da menina de 10 anos, que foi vítima de estupro no Espírito Santo, confirmaram a realização do procedimento. A menina foi transferida de São Mateus, no norte do Espírito Santo, para o Recife, após decisão do juiz Antonio Moreira Fernandes, da Vara da Infância e da Juventude do município onde ela mora. Desde domingo, a menina está internada no Centro Integrado de Saúde Amaury de Medeiros (Cisam-upe), que fica no bairro da Encruzilhada.

Ao longo do dia, diversas pessoas se manifestaram, a favor e contra o procedimento.

De acordo com o gestor executivo e diretor do Cisam, o médico Olímpio Barbosa de Morais Filho, o procedimento de interrupção da gestação, pelo qual ele foi responsável, teve início no domingo. "Ontem ( domingo) mesmo foi procedido o óbito fetal, então não tem mais vida, o feto. E hoje vamos proceder com o esvaziamento, que é para causar contrações para expulsão do feto. E esperamos, a partir de amanhã, em algum momento, que ela tenha condições de alta", afirmou. Questionado pelo Estadão sobre o estado de saúde da menina, o médico disse que ela está bem. "Ela está bem, com apoio psicológico, assistência social e a avó. Está tendo algumas contrações, cólicas, mas está bem", afirmou.

De acordo com a coordenadora de enfermagem do Cisam, Maria Benita Spinelli, a instituição optou pelo tipo de procedimento menos invasivo possível. "Se faz um primeiro procedimento, que é o óbito fetal, e em seguida dá continuidade ainda com o uso de alguns medicamentos, para o desencadeamento do aborto, da expulsão do feto, de uma forma menos traumática e intervencionista, para que a eliminação seja por via vaginal, sem causar maiores danos à menina", explicou.

Durante o domingo, grupos religiosos fizeram atos e uma barreira humana na frente do Cisam para tentar impedir a entrada do médico responsável pelo procedimento. Ao chegar ao local, o médico foi recebido aos gritos de "assassino".

"Dentro da maternidade, em alguns momentos, a gente escutava alguns ruídos lá de fora , mas conseguimos manter a menina fora e alheia ao que estava acontecendo lá. A gente sabia o que era, mas no nosso espaço estávamos cuidando dela. Fazendo o procedimento acontecer, explicando a ela direitinho. Para que ela se sentisse acolhida e segura com quem estava ali com ela. Afinal de contas, foi o nosso primeiro contato com ela. Para nós, do Cisam, fica a sensação e o sentimento de tarefa cumprida, cumprindo com o nosso dever", pontuou Benita Spinilli.

À noite, já com boatos de que a gestação havia sido interrompida com segurança para a menina de 10 anos, um movimento de apoio e suporte às mulheres também se mobilizou na frente do Cisam. "Um aborto legal é um direito. Não vamos abrir mão disso", disseram, em um manifesto

Nada confortável

"Transcorreu da melhor forma possível para ela ( a menina). O que aconteceu do lado de fora não foi uma situação confortável."

Maria Benita Spinelli

COORDENADORA DE ENFERMAGEM