Correio braziliense, n. 20996, 18/11/2020. Economia, p. 8

 

Bolsonaro: Novo embate com europeus

Wesley Oliveira 

18/11/2020

 

 

O presidente Jair Bolsonaro disse ontem, durante encontro do Brics — grupo que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul —, que vai divulgar uma lista de países que importam madeira de forma ilegal do Brasil. De acordo com o chefe do Executivo, esses países seriam os maiores críticos em relação às políticas do governo para a Amazônia.

"Revelaremos nos próximos dias o nome dos países que importam essa madeira ilegal nossa através da imensidão que é a região amazônica, porque daí, sim, estaremos mostrando que estes países, alguns deles que muito nos criticam, em parte têm responsabilidade nessa questão", disse.

De acordo com Bolsonaro, esse rastreamento é possível com o uso de uma tecnologia desenvolvida pela Polícia Federal que, segundo ele, mostra o "DNA" da madeira, permitindo a localização da origem do material apreendido e exportado. Sem citar, o presidente fez referência à operação Arquimedes, iniciada em 2017, e que resultou na apreensão de 2.400 m³ de madeira extraída ilegalmente. Os países de destino seriam Alemanha, Bélgica, Dinamarca, França, Itália, Holanda, Portugal e Reino Unido.

"Creio que depois dessa manifestação, que interessa a todos, porque não dizer ao mundo, essa prática diminuirá, e muito, nessa região", acrescentou o presidente. A fala do presidente recebeu críticas de entidades ambientalistas. Por meio das redes sociais, a ONG Greenpeace afirmou que, em fevereiro passado, o governo brasileiro suspendeu as fiscalizações do Ibama às exportações de madeira, "favorecendo a comercialização ilegal".

OMS
Além da Amazônia, Bolsonaro usou seu discurso para criticar a atuação da Organização Mundial da Saúde (OMS) no combate à pandemia do novo coronavírus e defender a reforma do organismo. "Desde o início, critiquei a politização do vírus e o pretenso monopólio do conhecimento por parte da OMS, que necessita urgentemente, sim, de reformas", disse Bolsonaro.

O presidente também apontou a necessidade de mudanças na Organização Mundial do Comércio (OMC) e da articulação do Brics para garantir assentos permanentes a Brasil, Índia e África do Sul no Conselho de Segurança das Nações Unidas. China e Rússia já têm cadeira permanente no conselho.

Após a reunião de cúpula, o Ministério das Relações Exteriores divulgou a "Declaração de Moscou", uma manifestação conjunta dos líderes dos cinco países do Brics. No texto, os líderes reconheceram a necessidade de um sistema de organismos multilaterais "revigorado e reformado", o que inclui ONU, OMC, OMS e Fundo Monetário Internacional (FMI).

O bloco reconheceu ainda a candidatura do Brasil a uma vaga temporária no Conselho de Segurança no biênio 2022-2023. Os chefes dos cinco países ressaltaram a importância da "ampla imunização" para "pôr fim à pandemia, assim que vacinas seguras, de qualidade, eficazes, eficientes, acessíveis e econômicas estiverem disponíveis".

Frase

"Creio que depois dessa manifestação, que interessa a todos, porque não dizer ao mundo, essa prática diminuirá, e muito, nessa região"
Jair Bolsonaro, presidente da República