Correio braziliense, n. 20996, 18/11/2020. Saúde, p. 14

 

Revisão confirma que CoronaVac é segura

18/11/2020

 

 

Resultados de um ensaio clínico da vacina chinesa CoronaVac divulgados na The Lancet Infections Diseases apontam que o imunizante, que vem sendo testados em diversas cidades do mundo, incluindo Brasília, é seguro. O estudo preliminar, conduzido entre abril e maio com 700 pessoas, não foi desenhado para averiguar a eficácia da substância, mas constatou também que ela induz uma resposta de anticorpos. A informação havia sido antecipada pelos criadores da fórmula. Agora, os resultados foram revisados por pares e divulgados na revista científica.

Segundo o artigo, a produção das proteínas neutralizantes (capazes de destruir o vírus) ocorreu dentro de 28 dias após a primeira imunização, administrada em duas doses da vacina candidata, com 14 dias de intervalo entre elas. A pesquisa também identificou a dose ideal para gerar as respostas de anticorpos mais altas, de 3g?, e isso será estudado mais detalhadamente nos testes de fase três, que já estão em andamento.

Os títulos médios de anticorpos neutralizantes induzidos pela CoronaVac variaram de 23,8 a 65,4 — mais baixos do que os níveis observados em pessoas que tiveram covid-19 anteriormente (nível médio de 163,7). No entanto, os pesquisadores acreditam que a vacina pode fornecer proteção suficiente contra a covid-19, com base na experiência com outras vacinas e dados dos estudos pré-clínicos, em macacos.

"Nossas descobertas mostram que a CoronaVac é capaz de induzir uma resposta rápida de anticorpos dentro de quatro semanas de imunização, dando duas doses da vacina em um intervalo de 14 dias. Acreditamos que isso torna a vacina adequada para uso de emergência durante a pandemia", diz Fengcai Zhu, coautor do estudo e pesquisador do Centro Provincial de Controle e Prevenção de Doenças de Jiangsu, em Nanjing, na China. "A longo prazo, quando o risco de covid-19 for menor, nossos resultados sugerem que administrar duas doses com um intervalo de meses, em vez de uma pausa de duas semanas, pode ser mais apropriado para induzir respostas imunes mais fortes e, potencialmente, mais duradouras. No entanto, mais estudos são necessários para verificar quanto tempo a resposta de anticorpos permanece após qualquer esquema de vacinação."

Mais testes

Como o ensaio não foi desenhado para avaliar a eficácia, os resultados dos estudos de fase 3 serão cruciais para determinar se a resposta imune gerada pela CoronaVac, da companhia chinesa Sinovac, é suficiente para proteger da infecção por Sars-CoV-2. Além disso, a persistência da resposta dos anticorpos precisa ser verificada em estudos futuros para se descobrir a duração de qualquer proteção. Por fim, o trabalho incluiu apenas adultos saudáveis, com idade entre 18 e 59 anos, e mais testes serão necessários para avaliar a vacina candidata em outras faixas etárias, bem como em pessoas com condições médicas preexistentes.

A CoronaVac é uma das 48 vacinas candidatas para covid-19 que estão em ensaios clínicos. É um imunizante de vírus inativado, baseado em uma cepa de Sars-CoV-2 que foi originalmente isolada de um paciente na China. Uma das vantagens desse protocolo é que ele dispensa refrigeração a temperaturas extremas, como é o caso das vacinas genéticas, tornando a distribuição mais realista.
Os autores, porém, observam algumas limitações no estudo. O ensaio de fase dois não avaliou as respostas das células T, que são outro braço da resposta imunológica às infecções por vírus. Isso será avaliado nos testes de fase três em andamento.

Escrevendo em um comentário vinculado, Naor Bar-Zeev, da Universidade Johns Hopkins, que não esteve envolvido no estudo, pediu cautela. "Como todos os ensaios de fase dois, os resultados devem ser interpretados com cautela até que os da fase três sejam publicados."

700
Quantidade de voluntários que participaram do ensaio clínico