Correio braziliense, n. 20997, 19/11/2020. Política, p. 3

 

Após fracasso nas urnas, PSL vai se reformular

Jorge Vasconcellos 

19/11/2020

 

 

O PSL, que tinha o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) como filiado até o ano passado, passará por uma reformulação nos diretórios estaduais, após o fracasso no primeiro turno das eleições municipais. Mesmo tendo recebido o segundo maior repasse do Fundo Eleitoral para financiar campanhas, no valor de R$ 199,4 milhões, a sigla ficou em sétimo lugar entre os que mais elegeram prefeitos, com a vitória de 92 candidatos, mas nenhum deles em capital. Além disso, é o 15º em número de vereadores eleitos: três mil. Questionado sobre o resultado das urnas, o presidente do partido, o deputado federal Luciano Bivar (PE), afirmou, em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, que "o PSL tinha dinheiro, mas não tinha poder".

"O dinheiro é relativo. O PSL não é um partido que tem poder. Tinha dinheiro, mas não tinha poder, ou seja, não tínhamos as prefeituras nem o governo federal. Se você não alterar o sistema de uma maneira inteligente, só vão restar dois partidos: o do presidente, na área federal, e os partidos dos governadores", frisou. "Quem não tiver isso aí tem dificuldade sem as coligações. Crescemos mais de 200% em prefeituras. Tínhamos 30, hoje, temos 92. Tínhamos 800 vereadores e agora estamos com 1.196", destacou.

O desempenho do PSL no domingo nem de longe lembra as eleições de 2018, quando a sigla surfou a onda do bolsonarismo e conquistou a segunda maior bancada da Câmara, com 53 deputados.

Bivar também disse, na entrevista, que o partido passará por uma "remodulação" nos diretórios estaduais para ter políticos que trabalhem sabendo se valer de emendas. "O caixa é uma grande ilusão. O que faz, hoje, prefeitos terem poder não é o caixa que a gente distribui para prefeitura de R$ 150 mil, R$ 250 mil. O que faz o caixa deles são as emendas", enfatizou. "O PSL não teve emendas. Os caras têm R$ 40 milhões de emendas e distribuem para o interior inteiro. Isso mantém no poder. Não é o dinheiro para fazer a campanha. Eles chegam à campanha com o dinheiro das emendas."

Ele evitou classificar como um erro o lançamento de candidatos que não chegaram ao segundo turno, como a deputada Joice Hasselmann (PSL-SP), que disputou a Prefeitura de São Paulo, mas terminou em sétimo lugar, com apenas 1,84% dos votos válidos. "O PSL não errou. O partido não tinha quadros tradicionais. Como é que pode ter um candidato que nunca teve poder, nunca foi governador, nunca foi prefeito e nunca falou: 'Essa ponte fui eu que fiz?'. Nós não temos discurso porque nunca fomos poder. Estamos, agora, como alguns partidos pequenos, marcando presença", afirmou.

O parlamentar não respondeu se Bolsonaro voltará ao PSL, mas disse que, em política, não se pode ter rancor. "Isso é assunto para questionar o presidente. Ele saiu espontaneamente, nós continuamos e cada um escolhe sua forma de fazer política", frisou. "Precisa perguntar para quem quer vir se ele tem algum sentimento de vir para o partido. O PSL é como rolo compressor. É pequeno, mas é muito firme. Não arredamos um milímetro."