Correio braziliense, n. 20997, 19/11/2021. Brasil, p. 6

 

Ministério defende isolamento e, depois, retira tuíte

19/11/2020

 

 

Com 5.945.849 diagnósticos positivos e 167.455 óbitos desde o início da pandemia e diante da possibilidade de uma segunda onda do novo coronavírus, o Ministério da Saúde e o Palácio do Planalto ainda divergem em relação às recomendações na prevenção da covid-19. As discordâncias voltaram a reaparecer ontem, após a pasta publicar que não existe medicamento contra a doença e afirmar que a melhor medida preventiva é o isolamento social. A postagem, feita no Twitter, foi apagada horas depois, mas desagradou o Planalto e bolsonaristas.

Em tréplica a um internauta, o ministério relembrou que não há tratamento específico contra a covid. "Olá! É importante lembrar que, até o momento, não existem vacina, alimento específico, substância ou remédio que previnam ou possam acabar com a covid-19. A nossa maior ação contra o vírus é o isolamento social e a adesão das medidas de proteção individual", respondeu a pasta.

Menos de uma hora depois, a mensagem foi retirada do ar. Fontes ouvidas pelo Correio confirmam que o tuíte desagradou ao Planalto –– o presidente Jair Bolsonaro desdenha da doença e, ontem, chegou a dizer que são "frouxos" aqueles que adotaram o isolamento social como forma de evitar a propagação da doença. A reportagem também entrou em contato com o ministério logo após a exclusão da mensagem para saber o que motivou a retirada e recebeu uma nota explicando que a remoção se deu porque trazia "informações equivocadas. Um erro humano que já foi corrigido".

E acrescentou: "A pasta reforça a importância do atendimento precoce contra a covid-19 e medidas de prevenção, como a lavagem das mãos, o uso de álcool em gel e de máscaras, até que seja encontrada uma solução efetiva para atender a população e evitar o risco de contágio. O protocolo de tratamento para a doença e uso de medicamentos está a critério dos profissionais de saúde, em acordo com a vontade dos pacientes".

Intervenções
Não foi a primeira vez que Bolsonaro interveio no ministério, sob a gestão do general Eduardo Pazuello. Anteriormente, ele desautorizou a compra de 46 milhões de doses da vacina CoronaVac, desenvolvida pelo Instituto Butantan em parceria com a farmacêutica Sinovac –– o presidente só se refere ao imunizante como "a vacina chinesa do João Doria", em crítica ao governador de São Paulo, seu possível rival na corrida presidencial de 2022.

Pazuello, que depois desse episódio recebeu a visita de Bolsonaro enquanto convalescia da covid-19, não se importou em gravar um vídeo com o presidente no qual concordava com a intervenção no acordo com o Butantan. Dias depois, já liberado do isolamento, o ministro reconheceu a força da doença ao dizer que não estava "completamente recuperado" e que era "difícil você voltar ao normal".

Se Bolsonaro chegou a classificar uma possível segunda onda da covid-19 como "conversinha", o fato é que os números da infecção não param de subir. Ontem, o país confirmou mais 34.091 casos e 756 mortes e, com isso, soma 5.945.849 diagnósticos positivos e 167.455 óbitos desde o início da pandemia.

Com a alta dos números e a falta de controle de transmissão indicada pela taxa de transmissão (Rt) nacional medida pelo Imperial College, de Londres, que está em 1,10, o país caminha para atingir a marca de seis milhões de infectados ainda esta semana. Segundo as análises do Portal Covid-19 Brasil, isso tem tudo para acontecer amanhã. Além disso, o Brasil deve ter mais de 170 mil mortes até o próximo domingo.

Com o crescimento dos números, a média móvel de óbitos está subindo. De acordo com análise do Conselho Nacional dos Secretários de Saúde (Conass), por dia estão morrendo, em média, 584 pessoas. Já em relação à média de infecções diárias, houve um decréscimo e diariamente, segundo o Conass, 28.313 casos são registrados. (BL e MEC)