Título: Contaminação de fundos de pensão é indireta
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 17/09/2008, Tema do Dia, p. A2

Com um patrimônio de US$ 2 trilhões, os fundos de pensão americanos não serão contaminados diretamente pela crise que está abalando o mercado financeiro internacional. Segundo Marcos Manduca, diretor executivo de riscos financeiros da empresa de consultoria Ernst &Young, os fundos de pensão americanos já vêm há algum tempo saneando os investimentos com lastro imobiliário.

Indiretamente eles serão afetados, mas a não a ponto de perder a capacidade de pagar seus compromissos com aposentadorias e pensões, afirma o diretor.

A possibilidade de uma crise de longa duração ainda não está no horizonte. Na opinião de Manduca, "a crise atual é financeira, não chega a ser uma crise econômica" e os ajustes devem terminar em um prazo de seis meses. Os negócios dos fundos podem ser afetados pela perda de valor e a redução do número de bancos de investimentos em atuação.

Migração no Brasil

No Brasil, os efeitos da crise sobre os fundos de pensão são marginais, mas não estão passando em brancas nuvens. Segundo Manduca, os fundos de pensão foram afetados pela derrocada da Bovespa, com a saída dos investidores estrangeiros ¿ maior investidor da bolsa em volume de negócios ¿ para cobrir perdas no exterior. Este ano, o principal índice de preços da bolsa, o Ibovespa, já perdeu 22,94%. A perda na bolsa não afetou a rentabilidade para honrar compromissos com seus participantes.

Os fundos de pensão brasileiros tem outras características que ajudam a blindá-los. O setor é fartamente regulamentado ¿ só podem aplicar até 50% de seu patrimônio em ações que está em cerca de R$ 320 bilhões ¿ e têm um perfil bastante conservador. Atualmente aplicam de 20% a 30% em ações e há fundos menores que sequer possuem ações em seus portfólios.

De acordo com o diretor da Ernst & Young, os fundos de pensão brasileiros não aplicam no exterior, o que impede contágio direto com títulos subprime (alto risco) do mercado hipotecário, que detonaram a crise financeira.

Desde o início do ano, os fundos de pensão vinham reduzindo suas aplicações em bolsa de valores, num movimento inverso ao que fizeram em 2007, quando obtiveram excelentes ganhos com as ações. O Ibovespa fechou o ano com valorização acumulada de 43,7%.